If you’re good at something, never do it for free.
Assisti na ultima semana o filme mais comentado até agora.
Batman, The Dark Knight.
O título na realidade não tem nada a ver com a história que se passa no filme. O verdadeiro "Batman, o cavaleiro das Trevas" foi uma minissérie de duas partes feita pelo genial Frank Miller na decada de 80. Na gibi, o Batman de Miller é um velho sombrio, malvado, brutal, animalesco (em várias cenas os bandidos alegavam que o Bat se aproximava "rosnando") e que não hesita em quebrar o pescoço do Coringa e observar "o que existia dentro dele sair 'gritando' " - uma clara alegação aos "demônios", no sentido mais literal do termo (se é que é possivel), que o habitavam-, em dar socos na cara do Super Homen, o eterno escoteiro, nas palavras do proprio Wayne e dizer que ele iria conhecer o unico homem que o derrotou. O gibi é fantastico. Um dos melhores que eu já li até hoje.
Entretanto, no filme que eu assisti, o astro é outro.
Entretanto, no filme que eu assisti, o astro é outro.
Sim. Tenho que concordar com 99% das pessoas que assistiram ao filme.
O dono do filme é o Coringa.
Ele é o cavaleiro das trevas.
Só que quero ir mais além. Por que o Coringa de Heath Ledger é tão "diferente" dos demais vilões? Enquanto assistia o filme, a figura do Coringa se fixava na minha mente. Podem ficar tranquilos que eu não estou fissurado no cara. Nem vou me tornar uma "viúva do Ledger". Não vouentrar na comunidade dele só por causa do filme. O que notei é que pessoas que nunca leram (ou que só leram meia duzia de revistas) do Batman agora bradam que são fãs do cara. Não do Batman. Mas do coringa. Colocam fotos no orkut, usam camisas, discutem sobre uma possivel continuação do filme. Não do Batman. Mas do Coringa. Sabem todas as falas do palhaço rei do crime mas nunca leram a "Piada Mortal", nem guardam num saquinho plastico a revista Superpowers em que o Coringa mata o primeiro Robin. Não sabem que o coringa antes era conhecido como "capuz vermelho".
Capuz o quê?
Se examinarmos os outros vilões (e olha que são muitos), todos eles apresentam um traço de humanidade. Darth Vader (pã pã pãpaan pã pã pãan pã pãpãan) apronta todas, mas no fim pede perdão a Luke e mostra que ele ainda tinha algo de bom atrás daquela máscara. Hannibal mesmo com uma orelha fresquinha dentro do bolso do paletó ajudava a detetive Jodie "sapatão" Foster a solucionar seu caso. Até mesmo o Arnold "Exterminador do futuro", no inicio um vilão, muda de time pra proteger aquele garoto idiota. Podemos dizer que Lex luthor tem no seu medo a razão pra odiar o superhomem e se o homem aranha estivesse envolvido na morte do seu pai queria ver se você não sairia voando por ai num planador com abóboras explosivas nas mãos.
A lista é longa, e mesmo os vilões mais brutais tem seus deslizes. Até o Jason em algumas cenas parece um cara legal.
Mas não o Coringa.
Ele não tem motivo nenhum pra fazer o que faz. Ele simplesmente "faz". E ponto. É isso. Zéfiní.
Analise a frase mais marcante do Coringa mais famoso, Jack Nicholson no primeiro filme: - "Você já dançou com o demônio sob a luz do luar?" Agora, compare com essa: -"Do I look like someone who has a plan"? ("Eu pareço alguém que tem um plano"?) Quem assistiu o filme deve ter se arrepiado quando o Ledger manda essa. O coringa mostra o que há de mais sombrio no ser humano. A capacidade de abstrair toda uma programação implantada no nosso mais profundo subconsciente e liberar o ID até o seu ponto mais extremo. O coringa é a vontade de esmurrar alguém pelo simples fato de querer ser temido. É a vontade de do nada levantar o dedo médio na cara do professor que se acha um "Platão" em pleno Rio de Janeiro. É o desejo de saber que as pessoas ao seu redor desconhecem seu proximo passo. É lançar um olhar de desprezo a alguém que está errado. É agir de forma totalmente "freak" de forma consciente. Usando Platão no seu Protágoras é a idéia de que homem algum faz algo errado sabendo que está agindo errado, ele só faz por ignorancia ou ilusão delirante. Mas o delírio é "delirio" para quem? Para quem passa por ele ou para quem o observa? Por isso o Coringa se torna tão fascinante.
Segundo Yehuda Bauer, um dos grandes estudiosos de Hiltler, ele era o "Mal extremo". Entretanto, a maioria das pessoas dão meia volta nessa idéia. Isso por que se aceitassemos isso, estamos também aceitando que dentro de cada um de nós existia um "Hitler interior" esperando para agir. Só precisando de um "empurrãozinho pra sair. Nas palavras do Coringa: "Madness is like gravity. All it takes is a little push". (A loucura é como a gravidade. Só precisa de um empurrão). O que mais me deixava sem fôlego no filme era o fato de que o cara simplesmente não media as consequencias de seus atos, nada parecia ter importância. Ele queima dinheiro, mata seus capangas, se deixa atropelar pelo Batman (sem sucesso... escoteiro...rs), desfila nos carros da pólicias (numa das melhores cenas do filme... a trilha sonora dá a impressão de como deveria ser a mente do Coringa naquele momento). Entretanto, todo esse esforço é destinado a nada. Por que o fato de não ter algo definido no fim das contas, "É" definir alguma coisa e isso destroi toda a montagem do Coringa (Dá-lhe Epimenedes!). Mas não é isso que ele quer? ser um agente do Caos? ("I am an agent of chaos")
O Batman é eclipsado pelo simples fato de ser o cara que pensa em tudo, que conhece a cidade com a palma de sua luva. Ele tem os meios certos, o dinheiro pra isso, amigos, um flerte, mas ao mesmo tempo, assim como Gordon, não tem ninguém ao seu lado. E ainda assim faz tudo certo.
O Coringa nos fascina por que mesmo fazendo tudo "errado" (vide a melhor cena do filme, a explosão do hospital), ele consegue olhar pra trás e traduzir todo o drama que aflinge o ser humano: Tudo isso vale a pena?
- "I’m a dog chasing cars. I wouldn’t know what to do if I caught one".
(Sou um cachorro perseguindo carros. Eu não saberia o que fazer se alcançasse um).
1 Comments:
Cuidado para não ter pesadelos... ou se apaixonar pelo descompensado do Coringa..
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