Growing up!

Aqui você encontrará meus delirios socráticos, minhas opiniões sobre assuntos diversos e obvio, um pouco da minha percepção de mundo. Tiago de Souza

sexta-feira, setembro 30, 2011

Batuka 2011


Pra quem não comprou a revista...
Trechos da minha entrevista para a Modern Drummer #106.


Influências

Posso apontar dezenas de bateristas que me influenciaram e fico até com receio de esquecer alguns nomes. Entretanto, vejo nas minhas conversas com outros bateras que vários ignoram as origens do nosso instrumento e nem sequer sabem como se construiu a linguagem dos estilos que eles mesmos tocam. Por isso a contribuição da MD é importante para aproximar os bateras dos fundamentos de nossa arte e diminuir essa lacuna de formação, é essencial ouvir as tradições e entender as mudanças que nosso instrumento passou no decorrer dos anos. Sem conhecer Tony Williams e Steve Gadd, é impossível entender como surgiu um Vinnie Colaiuta, por exemplo. A mesma coisas se pensarmos que o cara sabe todas as frases e levadas do Edu Ribeiro, mas não faz a mínima idéia de quem foi Edson Machado, Airto Moreira, Paschoal Meirelles, enfim. Quem faz isso não entende as partes que compõe o “todo” e acabam reproduzindo algo que foi alcançado num longo processo sem entender como o batera em questão “chegou lá”. Ouço muito os bateras de agora, mas também conheço os bateras que foram responsáveis por pavimentar o caminho dos gigantes de hoje. Prefiro chegar a fonte do que antes passar pelos intermediários. Quem assistiu minha apresentação no Batuka! e tem esse tipo de visão pode detectar inúmeras influencias no meu estilo, mas todas estão solidamente baseadas em trabalhos que não foram feitos a uma década atrás, mas sim a séculos atrás. Não ouço somente “bateristas”. Bjork, Stravinsky e Miles Davis me emocionam na mesma intensidade que Sivuca, Elis Regina e Djavan. Não estabeleço rótulos a minha música. Ouço tudo: de Brian Eno a Jorn Lande. De Jazz a Samba. Isso nos faz muito mais que bateristas! Aprendo muito mais com a abordagem de “ruído musical” de John Cage do que com os “malabaristas” do instrumento que eu vejo pelo You Tube. Depois de me apresentar no Batuka! um rapaz me disse que tinha percebido muito de Gavin Harrisson num determinado momento da musica que eu toquei. Expliquei que o trecho em questão foi influenciado por uma música do Radiohead chamada “Morning Bell”. Traduzindo: a música é um mundo muito extenso para eu me apegar a um único território.


Música brasileira

A influencia da música brasileira é muito forte no meu estilo. Sei que ela é um representante forte da nossa cultura e creio que nós músicos devemos ter em mente que ela é um diferencial no mercado mundial e até mesmo no nosso “play” aqui dentro do Brasil. Ouço muito a nossa música e consequentemente os bateras daqui, e isso é um diferencial na minha música. A complexidade do Marcio Bahia, a malandragem rítmica do Robertinho Silva, a abordagem vintage do Alex Buck e do Xandy Figueiredo, a energia transcendental do Kiko Freitas e do Edu Ribeiro, a classe do Balla, enfim, os exemplos são tantos que me sinto mal de excluir as outras dezenas de grandes bateras do nosso país que com sua música honram nossa arte de todas as formas possíveis. Tudo isso nos mostra que aqui no Brasil temos excelentes músicos e cabe a nós mesmos mantermos esse legado para os músicos que virão. Viva a Bateria brasileira!

Batuka

Meu material foi feito no sábado anterior ao ultimo dia para postagem. Gravei no estúdio do Duda Andrade com meus amigos Davidson Rodrigues na captação e gravação de áudio e do Felipe Fernandes e Alex Favilha nas filmagens. Foi muito puxado, pois o estúdio só tinha horário para depois de meia noite e o solo que foi pro festival foi gravado as quatro da manhã e a música que eu toquei foi gravada depois disso. Foi extenuante, mas quando minha namorada me ligou dizendo que eu tinha sido selecionado para a final foi uma grande alegria. Já me sentia feliz por estar ali na final e sinceramente, acho que cheguei bem tranqüilo. Li bastante e refleti sobre a importância desse processo, pois sabia que seria uma oportunidade impar. Me preparei mais “mentalmente” do que “tecnicamente” para a final e acho que foi a escolha mais acertada, embora quando se está de frente a jurados como Dom Famularo, Damien Schimdt, Aquiles Priester e Quintino Cinalli a concentração cai a níveis drásticos... Sobre o Batuka! posso dizer que foi um momento fantástico na minha vida e que me sinto honrado por vencer um concurso que bateras como Rafael Barata, Guilherme Santanna, Alex Buck, Walmir Bessa e outros ganharam. Assistir aos bateras que se apresentaram foi inesquecível, e eventos desse tipo deveriam receber todo o apoio possível, pois estamos numa ilha rodeada de absurdos musicais por todos os lados e um espaço desse tipo é algo realmente importante para manter a nossa cultura viva. Independente do fato de ter vencido, foi um momento inesquecível estar ao lado do Èder Medeiros e do Rogério Pitomba no evento. Ficamos praticamente o tempo todo conversando e compartilhando impressões sobre música e afins. Cada um deles me mostrou particularidades interessantes que levarei para o resto da minha vida: o foco, a determinação e a criatividade do Éder; a simplicidade, o bom humor contagiante e a musicalidade do Pitomba ficaram gravados na minha memória e me orgulho em ter esses dois músicos excepcionais ao meu lado naquele dia. Não tive nenhum roteiro predeterminado na minha apresentação, antes de tocar ouvi um pouco de Coltrane nos bastidores e falei com Deus, desejando que ele me ajudasse a suportar o que viria a seguir. Adentrei no palco, senti a vibração de estar num evento daquele porte e foquei meu pensamento no meu Deus, na minha música e na minha família (meu pai e minha namorada foram comigo para SP e me ajudaram muito nos momentos que antecederam o evento). Toquei uma composição que foi gentilmente cedida pelo André Vasconcelos (o nome da música é ROMA) e o Daniel Musy preparou as trilhas para que eu tocasse no festival, depois fiz um solo e toquei um frevo chamado “Nino, o Pernambuquinho” da Spok Frevo Orquestra. Quando o resultado saiu fiquei muito feliz e percebi que toda a minha iniciativa tinha sido recompensada. Agradeço a Vera Figueiredo e a Carla Dias por terem essa iniciativa. A produção é impecável, e tive toda ajuda necessária durante o evento. A Vera é uma pessoa iluminada e realmente merece o fato de já ter seu nome escrito na história da música brasileira.

Dicas

Existem músicos que começam sua carreira como incendiários e terminam como bombeiros. Faça o máximo para não deixar o fogo de sua música se apagar. Ouça sua voz interior. Se algo dentro de você diz que o caminho a seguir é correto, siga-o sem pensar nas conseqüências. Como disse Nietszche: Seja Quem tu És. Sempre vão existir pessoas para te colocar pra baixo, para menosprezar sua música e subestimar sua capacidade, mas também vão existir pessoas que vão torcer por você. Mesmo depois do Batuka, continuo a conviver com os dois tipos de gente, mas mantenho o foco no caminho que me foi traçado. Lembre-se que Música é comprometimento. Ouça o máximo de música que você possa e trabalhe de forma correta e verdadeira. Os frutos serão conseqüência de sua caminhada. Agradeço a Deus (Tudo é DELE e para Ele) e a minha família por estarem ao meu lado sempre. Obrigado ao pessoal da MD por me apresentar a músicos que eu nunca conheceria em outra situação e por me auxiliarem na minha jornada rumo ao transcendência artística. Longa Vida a MD e aos músicos do Brasil!

1 Comments:

Anonymous robinho Barreto said...

grande Thiago, me emocoinei bastante ao ler este trecho de sua entrevista. lições que levarei pra minha vida tbm!!! vlw meu irmão Deus é contigo!!!

10:11 AM  

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