Uma reflexão sobre prioridades e o Tempo...
O que dizer sobre o Tempo? Sei que esse é um assunto batido, mas eu quero compartilhar com vocês sobre um assunto que tem me deixado inquieto ultimamente: qual a relação entre meu projetos pessoais e o passar do tempo?
O Tempo não para, já dizia o poeta de meia tigela, mas o problema realmente é esse. O Tempo não para. Cada minuto que passa é perdido para sempre: palavras que nunca mais voltarão, sorrisos que nunca mais se abrirão, sensações que adormecerão para se repetirem de forma diferente mais tarde, pessoas que deixamos de conhecer a cada minuto, pessoas que infelizmente conhecemos a cada minuto e desejamos nunca ter conhecido, coisas que fazemos e depois quando a “ficha cai” percebemos que nunca deveríamos ter feito, mas, já foram feitas! Coisas que queríamos fazer, mas devido ao medo, as circunstancias da vida ou até mesmo por ceder aos ditames de uma senhora chamada “preguiça”, deixamos de fazer algo, e por isso nunca iremos sentir a fragrância que por certo iria inebriar os nossos sentidos, somando isso àquela sensação de “dito e feito”. O simples fato de estar escrevendo esse texto agora, me limita a não estar fazendo outra coisa, como, por exemplo, ler um livro, estudar um pouco mais de bateria, ou simplesmente dormir. (Já pensou em quanto tempo perdemos em uma noite de sono? Quantas coisas que poderíamos ter feito!) Sei que parece um clichê terrível falar sobre isso, mas você já parou pra pensar nisso? È o famoso efeito da “teia de aranha”: cada ação que fazemos na nossa vida libera uma certa quantidade de fios dessa teia, ela (a teia) nos abre um caminho entre centenas de possibilidades, cabendo a nós decidir em qual fio caminhar (vamos deixar pra outra ocasião uma discussão sobre a influencia de Deus nos nossos atos, tudo bem?) Entretanto, o simples fato de escolhermos um único fio elimina a possibilidade de as outras alternativas acontecerem.
Que triste não? Uma única escolha modifica para sempre toda a nossa vida.
Vou dar um exemplo.
A minha maior influencia nos estudos de bateria é um cara chamado Virgil Donati. Ele é australiano, e estuda bateria desde os três anos de idade aplicando-se ao estudo bateristico numa média de 10 horas por dia.
Isso mesmo, você leu certo.
10 horas! E segundo ele, desde os seus três anos que não houve um único dia em que ele não deixou de tocar. Ele é um obsessivo por bateria. Um monstro, dotado de uma independência de membros que beira a insanidade, ele aplica polirritmos (tocar uma divisão diferente em membros diferentes) com a mesma facilidade com que come um Big Mac, seus pés atingem facilmente velocidades como 200 bpm e suas mãos demonstram um controle robótico, assim como uma pegada dotada de uma força e de flexibilidade animalescas. Sua dinâmica impressiona até mesmo uma pessoa que não tem um conhecimento profundo de música: para essas ele parece um ninja, para os iniciados na arte da música, ele é um gênio. Já tocou com grandes nomes da música mundial e para você que lembra, ele abriu as olimpíadas de Sidney tocando a música “Eternity”. Ele veio ao Brasil em novembro e numa entrevista ele disparou essa pérola: perguntaram para ele quais os trabalhos musicais ou os artistas que mais o desafiaram, ou seja, os que apresentaram as músicas mais difíceis de serem executadas. Ele responde sem pensar:
- Bom, eu posso dizer que desenvolvi as minhas habilidades musicais a um ponto que ninguém pode me desafiar. Na realidade, eu que os desafio com o meu ritmo, pois esse é o meu território, essa é a minha habilidade mais apurada.
Ao repórter não restou outra coisa a não ser recolher a sua insignificância e bolar rapidamente outra pergunta.
Mas ainda assim, com tanta virtuosidade, Donati pensa que somente “arranhou” a superfície do conhecimento musical. Essa sensação de superficialidade faz com que ele refine cada vez mais as suas habilidades na bateria. Ele é incansável, é um inquisidor baseado no desejo de sua ambição pelo conhecimento, é uma busca pelo Santo Graal, e nisso, ele pode ser comparado a um gnóstico que procura entre livros ensebados e pergaminhos antigos, as chaves de um conhecimento que somente pessoas selecionadas pela máquina que rege o Universo podem alcançar.
Mas será que isso vale mesmo a pena? 10 horas por dia durante 30 e poucos anos... Quanto esse cara deixou de fazer para se dedicar a um instrumento, quantas tardes perdidas dentro de um quarto, quantas namoradas que ficaram pra depois, quantas garotas passaram sem ele se dar conta de que elas “passaram”, dores pelo corpo devido o esforço repetitivo, desespero em tentar alcançar velocidades dignas de um Mercúrio, ansiedade, frustração, quantas horas gastas para se aprimorar e no fim, descobrir que não soltou da escada na borda da piscina... que nem chegou a mergulhar... e o pior, descobrir que o Tempo passa inclemente: seu corpo não é mais o mesmo com o passar do tempo, seus cabelos estão começando a cair e se realmente acreditássemos em mitologia grega, poderíamos dizer que está próximo o momento em que Laios, Klotos e Laquesis irão se aproximando com a tesoura lentamente para cortar o fio de ouro que está no topo da sua cabeça cujo comprimento é proporcional ao tempo que nos resta de vida, e depois que o fio é cortado, começa a jornada que irá leva-lo ao reino de Hades. Um dia, Donati irá sentir que suas mãos não conseguem mais tocar como antes, e então sentado numa poltrona diante de tantas fotos suas, ele irá olhar para suas mãos tremulas e se perguntar: valeu a pena tanto esforço? Meu nome está no Hall da fama, qualquer baterista que se preze terá que respeitar a lenda chamada Virgil Donati. Mas, e agora?
Salomão dizia que quanto mais conhecimento, mais sofrimento. E é isso. Esse é o grande erro do ser humano: na sua busca por conhecimento ele deixou de perceber as pequenas coisas da vida - deixou o “micro” para se passar as horas (bens não renováveis, na melhor forma que um professor de Geografia física poderia explicar) alimentando o desejo de alcançar o “macro”. Perdeu tempo descobrindo que no fim, se acaba de mãos vazias. Tanto sofrimento para no fim, descobrirmos que isso só foi uma simples passagem, pois a vida realmente começa quando ela acaba. (outro clichê!). Tanto sofrimento para descobrirmos que ao escolher uma vida, milhares de outras se perderam na seção “poderia ter acontecido assim...”. Isso é deprimente. Como somos limitados...
Isso pode ser comparado uma baqueta que cai da mão de um baterista no meio de uma música. Mesmo que somente uma fique na sua mão, ele tem de encontrar alternativas, pois a música não para.
Entretanto, uma música pode ser parada e iniciada.
Já a vida não tem botão de <<>
O Tempo não para, já dizia o poeta de meia tigela, mas o problema realmente é esse. O Tempo não para. Cada minuto que passa é perdido para sempre: palavras que nunca mais voltarão, sorrisos que nunca mais se abrirão, sensações que adormecerão para se repetirem de forma diferente mais tarde, pessoas que deixamos de conhecer a cada minuto, pessoas que infelizmente conhecemos a cada minuto e desejamos nunca ter conhecido, coisas que fazemos e depois quando a “ficha cai” percebemos que nunca deveríamos ter feito, mas, já foram feitas! Coisas que queríamos fazer, mas devido ao medo, as circunstancias da vida ou até mesmo por ceder aos ditames de uma senhora chamada “preguiça”, deixamos de fazer algo, e por isso nunca iremos sentir a fragrância que por certo iria inebriar os nossos sentidos, somando isso àquela sensação de “dito e feito”. O simples fato de estar escrevendo esse texto agora, me limita a não estar fazendo outra coisa, como, por exemplo, ler um livro, estudar um pouco mais de bateria, ou simplesmente dormir. (Já pensou em quanto tempo perdemos em uma noite de sono? Quantas coisas que poderíamos ter feito!) Sei que parece um clichê terrível falar sobre isso, mas você já parou pra pensar nisso? È o famoso efeito da “teia de aranha”: cada ação que fazemos na nossa vida libera uma certa quantidade de fios dessa teia, ela (a teia) nos abre um caminho entre centenas de possibilidades, cabendo a nós decidir em qual fio caminhar (vamos deixar pra outra ocasião uma discussão sobre a influencia de Deus nos nossos atos, tudo bem?) Entretanto, o simples fato de escolhermos um único fio elimina a possibilidade de as outras alternativas acontecerem.
Que triste não? Uma única escolha modifica para sempre toda a nossa vida.
Vou dar um exemplo.
A minha maior influencia nos estudos de bateria é um cara chamado Virgil Donati. Ele é australiano, e estuda bateria desde os três anos de idade aplicando-se ao estudo bateristico numa média de 10 horas por dia.
Isso mesmo, você leu certo.
10 horas! E segundo ele, desde os seus três anos que não houve um único dia em que ele não deixou de tocar. Ele é um obsessivo por bateria. Um monstro, dotado de uma independência de membros que beira a insanidade, ele aplica polirritmos (tocar uma divisão diferente em membros diferentes) com a mesma facilidade com que come um Big Mac, seus pés atingem facilmente velocidades como 200 bpm e suas mãos demonstram um controle robótico, assim como uma pegada dotada de uma força e de flexibilidade animalescas. Sua dinâmica impressiona até mesmo uma pessoa que não tem um conhecimento profundo de música: para essas ele parece um ninja, para os iniciados na arte da música, ele é um gênio. Já tocou com grandes nomes da música mundial e para você que lembra, ele abriu as olimpíadas de Sidney tocando a música “Eternity”. Ele veio ao Brasil em novembro e numa entrevista ele disparou essa pérola: perguntaram para ele quais os trabalhos musicais ou os artistas que mais o desafiaram, ou seja, os que apresentaram as músicas mais difíceis de serem executadas. Ele responde sem pensar:
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Ao repórter não restou outra coisa a não ser recolher a sua insignificância e bolar rapidamente outra pergunta.
Mas ainda assim, com tanta virtuosidade, Donati pensa que somente “arranhou” a superfície do conhecimento musical. Essa sensação de superficialidade faz com que ele refine cada vez mais as suas habilidades na bateria. Ele é incansável, é um inquisidor baseado no desejo de sua ambição pelo conhecimento, é uma busca pelo Santo Graal, e nisso, ele pode ser comparado a um gnóstico que procura entre livros ensebados e pergaminhos antigos, as chaves de um conhecimento que somente pessoas selecionadas pela máquina que rege o Universo podem alcançar.
Mas será que isso vale mesmo a pena? 10 horas por dia durante 30 e poucos anos... Quanto esse cara deixou de fazer para se dedicar a um instrumento, quantas tardes perdidas dentro de um quarto, quantas namoradas que ficaram pra depois, quantas garotas passaram sem ele se dar conta de que elas “passaram”, dores pelo corpo devido o esforço repetitivo, desespero em tentar alcançar velocidades dignas de um Mercúrio, ansiedade, frustração, quantas horas gastas para se aprimorar e no fim, descobrir que não soltou da escada na borda da piscina... que nem chegou a mergulhar... e o pior, descobrir que o Tempo passa inclemente: seu corpo não é mais o mesmo com o passar do tempo, seus cabelos estão começando a cair e se realmente acreditássemos em mitologia grega, poderíamos dizer que está próximo o momento em que Laios, Klotos e Laquesis irão se aproximando com a tesoura lentamente para cortar o fio de ouro que está no topo da sua cabeça cujo comprimento é proporcional ao tempo que nos resta de vida, e depois que o fio é cortado, começa a jornada que irá leva-lo ao reino de Hades. Um dia, Donati irá sentir que suas mãos não conseguem mais tocar como antes, e então sentado numa poltrona diante de tantas fotos suas, ele irá olhar para suas mãos tremulas e se perguntar: valeu a pena tanto esforço? Meu nome está no Hall da fama, qualquer baterista que se preze terá que respeitar a lenda chamada Virgil Donati. Mas, e agora?
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Já a vida não tem botão de <<>
3 Comments:
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