Growing up!

Aqui você encontrará meus delirios socráticos, minhas opiniões sobre assuntos diversos e obvio, um pouco da minha percepção de mundo. Tiago de Souza

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Mijo de vaca...


Não sei se vocês sabem (e é bem provável que não), mas do lado da minha casa existe uma verdadeira Amazônia em miniatura. É sério. Vou explicar.

Meu avô, a muito, muito tempo atrás (no período que os homens andavam de terno e gravata na rua as duas da tarde, quando se usava limão debaixo do braço como desodorante, quando merda era palavrão e quando batom era coisa de mulher safada) era um homem de muitas posses. Era quase um “rei do gado”. O cara veio de um lugar longínquo, apelidado genericamente de “Norte”, e através de muito trabalho árduo, começou a construir um verdadeiro império em Belford Roxo. Em questão de anos, o paraíba tinha terrenos gigantescos, cavalos marcados a ferro quente bem na bunda com as iniciais “SV” (de Severino Valentim... pelo nome já deu pra notar de onde meu avô veio né...), bois, vaquinhas, empregados, casas... até jipe o cabra tinha... meu vovô era realmente um cara endinheirado. Mas conforme o tempo foi passando, as trindade “fama + más companhias + burrice” foram fazendo esse verdadeiro aglomerado de riquezas se extinguir em grande parte. Quando eu nasci, meu avô de rei do gado não tinha quase nada, o que me enfurece até hoje, pois eu poderia ter nascido como um verdadeiro “mezenguinha”. Mas fazer o quê... Para que você entenda essa história, devo apresentar dois personagens: o terreno conhecido como “Amazônia” e a minha avó.

Uma das coisas que permaneceram das posses do meu querido vovô foi um terreno gigantesco, onde estão localizadas a minha casa, a casa dele e a casa da minha tia. Antes que pensem que eu moro num verdadeiro poleiro, deixo bem claro que o terreno é enorme, e as três casas tem seu devido espaço sem emporcalhar o ambiente. Meu avô construiu as três casas, e quem teve o prazer de conhece-lo sabe que o que ele tem de cabeça ele tem de cabeça (se é que vocês me entendem...). Ao lado desse terreno se encontra a Amazônia que eu tinha me referido antes. Ou seja, são dois terrenos separados por um muro de um metro e pouco de altura, mas que não é suficiente para nos separar por completo tanto da visão quanto do cheiro do terreno. A Amazônia é um terreno igualmente gigante onde ficam a garagem e plantas. Muitas plantas. Pé de manga, goiaba, cajá, acerola, coco, tem de tudo aqui. E fora os bichos.
Como meus avós são do interior, a vida interia eles tiveram muito contato com terra, plantas e animais, o que explica uma verdadeira fixação doentia pelo que eles chamam de “criações”. Patos, galinhas, coelhos, perus (gluglugluglu...), porcos, codornas, cachorros, papagaios, tudo isso já passou por aqui. Hoje, somente os patos, as galinhas, os perus e os cachorros permanecem, o que é um verdadeiro avanço. Ela chegou a construir um verdadeiro “Copacabana Palace” pras galinhas que ela cria.
O “edifício” tem dois andares.
Houve uma época em que existiam 7 cachorros aqui em casa... e quando a minha avó cismou de criar gansos? Esses verdadeiros “pittbulls com penas” chegaram ao incrível quantidade de 35... nem minha vó entrava mais lá...
Certo dia eu escuto minha vó gritar lá do portão dela:
- Príncipe! Vem cá!
(sim... ela me chama de príncipe...)
- Quequifoi?
- Me ajuda aqui... pega aqui...
Era um galão cheio de algum liquido que eu ignorei no momento.
- Pesado né...
- É...
- É pra melhorar a qualidade do terreno...
- Adubo?
- É... sim! É pra “adubar” o terreno.. vai ficar lindo príncipe!
(sim... ela me chama de príncipe... quequitem? Hein? Hein?)
Atravessei o portão que separa o terreno da minha casa e deixei o troço lá. Minha vó apareceu com um balde, e abriu a torneira que existe ao lado da garagem daqui de casa. Começou a enche-lo enquanto eu ia pro meu quarto fazer sei lá o quê. Só sei que esqueci totalmente o ocorrido e fui cuidar das minhas coisas. Foi quando eu senti o cheiro. Um cheiro de mijo começou a empestear o ambiente de uma forma terrível. Comecei a ficar puto da vida com aquele maldito odor que invadia a minha casa como uma verdadeira peste. Pensei angelicalmente que fosse o banheiro. Naquela época, a descarga do banheiro daqui de casa tinha dado defeito e eu pensei que alguém (provavelmente meu irmão) tinha feito merda... quer dizer... xixi, e não tinha enchido o balde singelo que ficava ao lado do vaso sanitário e que servia exatamente pra vocês já sabem o que. Mas quando cheguei no banheiro... nada...tudo limpo...
Foi quando eu escutei:
- Aleluiaaaaaaaaaa!
- Glória a Deusssssssss!
- O Jesussssss! Abençoa as plantinha!!!!!!!!!!!

Lembrei da minha vó. Seja varrendo a casa, seja lavando a roupa, seja qualquer coisa, ela sempre está cantando um hino ou então conversando com o papai do céu. E sempre numa altura estratosférica. Minha vó é muito ligada em Deus, pra vocês terem uma idéia, um pato que ela criava estava meio mal, sabe? Dodói... ela pegou o pato nos braços e começou a orar?!E o pato não ficou bom depois?
- Cura o pato Jesúúúúússsss!!!!!
O problema é que desa vez, algo me dizia que tinha alguma coisa errada.
O cheiro aumentava conforme eu ia me aproximando do quintal e foi quando eu vi uma cena aterradora.
Minha vó estava jogando um liquido meio amarelado pro alto.
Eu me recusei a pensar no que minha mente me apresentou.
Sim.
Ela estava jogando algo extremamente fedorento nas plantas.
Quase desmaiando, fui ma aproximando cauteloso, e perguntei:
- Vó... que merda é essa?!
- È prás plantinha ficá forte!
- Mas o que é isso?
O sol refletia no balde, fazendo com que o liquido no seu interior apresentasse uma tonalidade amarela intensa.
- É mijo de vaca!
- O quê?!?!?!?!?!
- Um moço contou para mim que isso é bom pra fortalecê as plantinha!
- Meu Deus do...
- Elas vão ficar lindas! As minhas plantinha!!!!!!
E continuou a jogar com o balde o precioso liquido fedido nas plantas.
Ela pulava!
Ela cantava!
Ela jogava!
Eu comecei a rir de nervoso...
Nem me pergunte como ela arrumou o suposto “mijo de vaca”.
Só sei que a rua ficou fedendo uns dois dias...

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