Growing up!

Aqui você encontrará meus delirios socráticos, minhas opiniões sobre assuntos diversos e obvio, um pouco da minha percepção de mundo. Tiago de Souza

sexta-feira, setembro 09, 2005

Ode ao Brasil

Certo filosofo norte americano (que eu não me recordo o nome... me desculpem) disse que “Uma coisa só pode ser abandonada a partir do momento que passemos a odiá-la”.
Humpf...
Parei pra pensar nisso esses dias.
O que nós brasileiros odiamos?
O Brasil é visto como uma terra de amor. Aqui, nesse “país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza” seria o umbigo do mundo (eu odeio umbigos... deve ser algum trauma de infância, vocês vão rir, eu sei, mas me dão nervoso... rs). Aqui, tudo que se planta dá (como escreveu Pero Vaz de Caminha), até dinheiro, embora essa árvore esteja em falta aqui no meu quintal. É a terra da harmonia, é a terra da felicidade. Somos “iluminados”. Temos até um “mago” (já sei... não falo mais de Paulo Coelho aqui Vanessa... rsrs). Somos capazes de fazer tudo o que nos der na telha. A melhor seleção de futebol do mundo. Os músicos mais sentimentais do mundo. O felling está enraizado até mesmo no nosso baterista mais duro. Temos o pulsar da natureza dentro de nós. Nossa alma é multicolorida. Somos moles, mas não com uma moleza preguiçosa (tirando é claro os baianos, mas eles não são brasileiros mesmo: são alienígenas), mas uma moleza de “ginga”, de malandragem. Temos humor. Temos fé. Temos carnaval. Temos uma nega chamada Tereza.
Canta Brasil!

É por isso que eu vou repetir a frase do filosofo “nãoseiqualonome” que eu coloquei lá em cima para o caso de você não ter entendido aonde eu quero chegar:
“Uma coisa só pode ser abandonada a partir do momento que passemos a odiá-la”.

E ai? Entendeu?
Nós estamos do jeito que estamos por que não conseguimos odiar nada.
Nada.
Nada mesmo.

Nós dizemos que somos contra a pobreza, mas ela continua ai para alimentar nossas campanhas políticas e discursos recheados de retóricas do tempo de Cícero. Não temos coragem nem de odiar a pobreza, muito menos de odiar a condição em que se encontram os pobres. Não estou tendo um arrombo de “Caco Antibes”, mas o Brasil se tornou especialista em manter a pobreza, e isso vai desde a nossa cultura até as nossas atitudes diárias. Nós nunca tentamos transformá-los em menos pobres: nós votamos em pobres, cantamos sobre pobres, reclamamos de pobres, escrevemos sobre pobres... E não adianta dizer que você não se sente assim, pois posso com um argumento acabar com seu sorriso de desaprovação. Veja o caso de Lula.
É quase uma opção impensável pensarmos em impeachment para ele. Pessoas defendem Lula com unhas e dentes. Dizem que ele está sendo manipulado, que ele foi “rodeado por forças incompreensíveis e nefastas”, e que retira-lo do poder seria ceder ao imperialismo comandado pela rede Globo, o mesmo que nos obriga a tomar coca-cola e comer big-mac enquanto escutamos Garota de Ipanema cantada em inglês com batida eletrônica. Mas cá entre nós: quem é que não fica com pena do Lula quando vemos aquela carinha de velhinho “bonzinho alcoólatra” que ele tem? E as orelhinhas? Perecem morceguinhos... e o olhar caído, digno de quem sempre lutou pelo povo... Isso sem falar do dedo mindinho que está faltando... Até eu acho graça disso...
Não quero defender ninguém, mas quando o cara em questão era o Collor, todo mundo gritava, xingava, dizia que ele era safado, e ao som de “caminhando contra o vento sem lenço...” e com a cara pintada de cola colorida berrávamos a plenos pulmões pela cassação daquele capeta disfarçado de caçador de marajás. Por que não fazer isso com o Lula?
Por que ele representa tudo aquilo que o brasileiro mais ama.
Pobre.

Fomos educados pela hierarquia católica que “quem dá aos pobres, empresta a Deus”. Que quanto mais pobres formos, mais próximos do céu estaremos. Que Jesus não tinha nem mesmo um travesseiro pra encostar a sua cabeça. Mas Jesus não é dono de todo ouro e prata do mundo? Ele não foi adorado pelos Reis (que não são magos... me mostra onde está escrito isso...) com “ouro, incenso e mirra”, que na época eram presentes valiosíssimos? Como é que pode? Fomos criados a amar a miséria. Pregamos um mundo melhor, mas um mundo melhor não pode existir sem um olhar de compaixão para que possamos exercitar nossos deveres de bons cristãos. Não quero aqui manchar os ideais de São Francisco de Assis, longe de mim fazer tão absurdo, mas aqui cabe uma pergunta: Como pode um lugar desse tamanho conviver com tamanha estupidez de espírito? Simples: na maioria das vezes, o povo brasileiro não odeia nada. Odiamos os argentinos, mas se precisarmos deles, pedimos ajuda rapidinho. Odiamos o juiz de futebol, mas gostamos quando ele rouba para o nosso time. Odiamos advogados, mas os chamamos de “Seu dotô”. Odiamos burrice, mas ninguém senta a bundinha pra ler um livro por mais de duas horas. Odiamos corrupção, mas adoramos o nosso “jeitinho brasileiro”.
Os judeus receberam no livro de Deuteronômio o mandamento de não pedirem emprestado nada a ninguém, pois eles seriam poderosos “onde quer que cheguem, pois aquela terra seria deles por herança”. Todos os heróis judeus eram podres de ricos: Abraão, Isaac, Jacó, José (aquele do príncipe do Egito mesmo...), Davi, Salomão. Mas nós brasileiros amamos pobres. Até mesmo quando eles viram ricos e nos dão as costas. Lula, Ronaldos e por ai vai.
Veja na sua lista se você encontra um judeu pobre por ai. Eu pesquisei e encontrei alguns: Bill Gates, Silvio Santos, Spielberg...
Ops...

Para um bom entendedor, meia palavra basta...