Growing up!

Aqui você encontrará meus delirios socráticos, minhas opiniões sobre assuntos diversos e obvio, um pouco da minha percepção de mundo. Tiago de Souza

sábado, setembro 24, 2005

"el catarrón"...


Cogito Ergo sun
Penso logo existo (Descartes)
Às vezes, eu penso em coisas muito estranhas.
Não, na realidade, pensar é estranho. Ainda mais no país em que vivemos.
As vezes eu penso!
Que estranho...
Alias, tudo na vida é estranho.
O ar que respiramos é estranho, as palavras que dizemos são estranhas (não sei se vocês já pensaram nisso, mas a pronuncia do nosso próprio nome, algumas vezes soa tão estranha... ah... deixa isso pra lá... esquece... rs), os sentimentos são estranhos, o conhecimento é estranho, a realidade é estranha...
Nossa... um pequeno momento “Matrix”... rsrs
Realmente, penso que se Edgard Allan Poe tivesse conhecimento das minhas aventuras, ele desistiria de escrever para sempre. Não, não tive nenhum acesso de loucura literária de aspecto egocêntrico aponto de me mostrar superior ao supremo mestre do terror, copiado por Baudelaire, Rimbaud e atualmente por Stephen King, mas quero deixar claro que coisas bizarras acontecem comigo. Isso eu tenho certeza. O bizarro não é estranho na minha vida. Meu nome já é bizarro por si só.
Tiago.
Na realidade, Tiago é a forma grega de Jacó.
Jacó é um nome hebraico.
Yakoov
Sabe o que significa? Significa “Mentiroso”. Não preciso explicar mais nada... geralmente as pessoas tem nomes que significa coisas decentes. Outra, eu sou músico. O que já é estranho. A música é algo estranho. Ninguém a explica. Quem a escolhe como filosofia de vida não pode ser normal. Transformar barulho em uma seqüência de sons harmonizados de forma melodiosa e ritmicamente estruturada. Nada mais absurdo. Ainda mais se a pessoa em questão escolhe como instrumento uma bateria. Além disso, sou um projeto de professor. E de História. O que é mais estranho ainda. Ainda mais se pensarmos que enfrento uma sala de aula lotada com “somente” 21 anos... nessa idade, o máximo que a maioria dos meus colegas de infância pensam é em contar quantas fraudas terão que comprar no próximo mês... e na situação do “Framengo”... uhtererê!... vermelhôooôô!
Mas não quero escrever sobre isso.
Quero contar um dos casos mais escabrosos que aconteceram comigo. Mas antes precisamos voltar a falar de Poe.
Baudelaire escreveu certa vez que “Nenhum homem soube narrar com mais magia as exceções da vida humana e da própria natureza” como Edgar Allan Poe. Ele não escreveu apenas algumas histórias assombrosas. Ele escreveu as mais dantescas evocações do terror humano – os pesadelos. No verso de um dos livros de Poe (o tenho em minhas mãos nesse momento), está escrito que muitos tentaram imitá-lo, mas ninguém até hoje se aproximou de sua extraordinária habilidade de narrar o indescritível, o grotesco, o macabro. Não sei se você se recorda, mas disse no inicio que nem ele (Poe) poderia descrever de forma decente o que eu tentarei descrever agora para vocês. Ele desistiria. Ele enlouqueceria, assim como seus personagens, que não sabem se o que estão vivendo é algo real, ou um pesadelo. Isso me lembra um outro escritor: Kafka. É... aquele que escreveu o livro “O processo”, onde um cara é julgado por pessoas que ele nem conhece, por algo que nem sabe o que é... ou então citando outro livro dele: “A metamorfose”, onde um cara acorda como uma barata. Isso mesmo: imagine você acordando e notando que se transformou numa barata?!
Putz...
Pesadelo e realidade se misturando, exatamente como naquele dia...
(Mais uma vez quero fazer um pacto com você leitor... mesmo que ache graça do que eu vou contar, não ria de mim hein?...)
Bom, a história é mundialmente famosa: é a história do “Catarrão”.

Brasil.
Rio de Janeiro.
Em algum lugar entre as estações de Maracanã e São Cristóvão.
Num vagão frio de um trem (tinha ar condicionado... acredita?) decorado externamente com estampas de propaganda da coca cola (seria como se o trem fosse um bombom de coca cola, tava todo vermelhinho... rs), estavam dois jovens estudantes de História. Ambos idealistas, aproveitando todos os momentos que o inicio de uma faculdade tem a oferecer. O trem balançava muito ao mover-se sobre os trilhos desalinhados da nossa querida “supervia”. O trem é algo medonho por si só. Hitler sabia disso, por isso fazia questão de colocar nessa caixa metálica os judeus que ele queria detonar. Colocar mais pavor nos coitados, sabe? Mas o problema não é somente a sensação de claustrofobia que impera no trem: o problema são as pessoas que estão nele. Quem já andou de trem sabe do que eu estou falando: cigarros acesos, palavrões aos borbotões, cheiro de sobaco, bafo de leão faminto no pescoço, pessoas roçando atrás de você, gente suada, amendoim torradinhu, guaravita geladão, gente dormindo de boca aberta, gente de boca aberta, gente sem boca, gente... simplesmente "gente"...). Mas não vou me alongar nisso (quem sabe outro dia...). Um dos estudantes que estava no trem atende pelo nome de Jean. O outro... você já deve imaginar quem é. Ambos com o olhar grudado na janela, analisando a linda paisagem que se alinhava do lado de fora. Devia ser umas nove e pouca da noite. Ambos cansados, depois de um dia exaustivo naquela caixa de concreto que recebeu o nome de UERJ dos seus criadores. Estavam quase dormindo com o balançar daquela geringonça criada na época da revolução industrial, mas que sobrevive até os dias de hoje ( o trem pessoal... esqueceram das aulas?!?! rsrs) quando um dos estudantes desabafa:
- Que dia hein? seu puto...
Esboçando um meio sorriso devido ao tratamento indecoroso, respondi:
- É... sinistro... – respondo laconicamente sem tirar os olhos do livro que estava lendo.
- Cara, olha só, o trem tá chegando na estação... - Jean se levanta na ponta dos pés, eu levanto os olhos um pouco e sorrio um pouco mais, o cara é muito baixinho, chega a dar pena.
- É... legal né.. geralmente isso acontece...
- Há...há...há... seu figura... olha só, tem um detalhe nisso tudo...
- Qual? - Respondo nitidamente impaciente.
- O trem pra Belford Roxo é que está chegando na estação, estamos no que vai pra Central esqueceu? vamos fazer baldiação aqui em São Cristóvão...
Aquilo me fez esquecer o livro que estava em minhas mãos. Perder o trem pra Bel já era um problema, imagina naquela hora... minha mente entrou em parafuso, mas mantive a calma:
- Se agente perder, pegamos outro... – rapidamente, procurei a pagina que tinha acabado de ler, pois fechara o livro com o susto.
- TÚTÁMALUCO? – respondeu Jean com a sua ginga de malandro indefectível – Tu vai ficar ai! Eu vou me mandar! Nem que eu tenha que voar eu pego essa bosta ambulante... eu quero ir pra casa! – dito isso arregalou os olhos e com as mãos em forma e travesseiro (juntas, com a cabeça apoiada nelas) mostrou pra mim que estava com sono e que falava sério: estava disposto a morrer pra entrar naquele trem se fosse preciso.
- Bom, mas ele está vindo mesmo... olha lá...
O trem estava chegando na estação. As pessoas se aglomeraram. Ele acabava de abrir as portas...
- Maquemerda! Vamos pular a linha cara! Eu vou pular a linha e pegar o trem... – Jean disse isso com o tom de voz que os psiquiatras gelam quando ouvem vindo de seus pacientes...
- Mas Jean... pular a lin...
Mal disse isso, as portas do trem em que estávamos se abriram e Jean correu... e eu, meio que por instinto de preservação e movido por um senso de amizade, corri atrás dele. Em questão de segundos, ao mesmo tempo em que colocava meu pé pra fora do trem, eu me esforçava para guardar o livro na bolsa. E com as batidas do coração já aceleradas, eu prendi a respiração: era uma situação de vida ou morte. Eu não estava preparado para aquilo. Eu pensava “isso vai dar merda... isso vai dar merda... isso vai dar m...”. Jean corria como uma bailarina em dia de apresentação no municipal: suas pernas esticadas devem medir menos de 40 centímetros, mas corriam como pernas de gazelas... incorporando o espírito de Legolas, o elfo do filme “O Senhor dos Anéis”, Jean pulou graciosamente (estou mentindo... ele pulou feio pra caramba... parecia uma pomba que acabou de tomar uma pedrada de um moleque e que após a pedrada queria voar a qualquer custo...) uma altura de quase um metro e meio, o que convenhamos, era uma altura que poderia matar seres da sua linhagem... pra ele era alto pra dedéu, mas a adrenalina fez o nosso herói nordestino voar em direção aos trilhos e pedras que enfeitam a linha ferroviária. E eu, com essa altura toda, voei atrás... confesso que meu coração parou naquele momento: “O que minha mãe vai pensar disso? E se eu morrer? Oh meu Deus! É só passar pra faculdade que agente começa a fazer merda...”. Quando meus pés tocaram o solo, senti a pressão de todo aquele impacto, meus joelhos se desencontraram, mas a minha adrenalina estava a mil, estava como um antiácido num copo dágua, nada poderia me deter, muito menos naquele momento. Jean já estava pulando a outra plataforma: caro leitor, foi um espanto... num salto mais fantástico do que o primeiro, ele voou em direção ao infinito... por um momento, pensei que ele iria quebrar a lei da gravidade, tão bem postulada por Newton, e iria flutuar em direção ao espaço, mas cai na realidade e pensei: pobre não voa, “pobre pega ar”. Nosso herói (mais conhecido como salário mínimo) coloca as duas mãos pequeninas na plataforma e com um impulso que com certeza lhe fez soltar um peido, se lança em direção ao piso imundo daquele lugar esquecido pela vassoura a muito tempo. Nisso, continuei na minha luta em transpor aquela verdadeira estação do inferno: levantar as pernas naquele momento era algo extremamente desgastante... meu corpo estava ficando bloqueado devido ao esforço insano de alcançar a toda velocidade a plataforma, comecei a sentir uma dor aguda do lado direito do abdômen... isso... aquela dor que você tem quando respira depois de um esforço forte. Sabe quando você anda, anda e não sai do lugar... Comecei a ficar desesperado... mas a plataforma estava a menos de um metro da minha frente! Finalmente estava próximo de conseguir ir pra casa! Sorri enquanto corria, embora fosse um sorriso inconsciente... a visão era fabulosa: a plataforma se aproximando, Jean na porta do trem, os anjos com as trombetas nas mão esperando para tocar o tema da vitória (isso... aquele mesmo do Senna: pãpãpã...pãpãpã....) mas eu não escutei nada... o mundo tinha parado... imagina tudo em câmera lenta... Jean (também conhecido com cafetão da central... rs) fazendo o sinal de “Vem” com a mão direita... minha perna direita alinhada com braço direito e vice versa... eu corria desesperadamente... os pés buscando alcançar o maior numero de centímetros possíveis... a língua sendo comprimida pelos meus lábios... as mãos fechadas dando a idéia de esforço... olhei pra lua... ela estava lá... linda... pequenas nuvens em volta, davam um charme maior ao quadro que se formava perante os meus olhos... Me lembra uma cena de Dante Alighieri no seu livro “A Divina Comédia”: “Ergui os olhos e vi, iluminando as encostas da colina, o planeta que sempre indica o bom caminho; isso fez diminuir o assombro que durante aquela angustiante noite turvara o lago do meu coração. Como o náufrago, que mesmo salvo das bravias ondas, fita o ameaçador mar no qual se agitara, assim meu animo, tremendo ansioso, pôs-se a remirar o espaço percorrido, que nenhum homem jamais cruzou ileso”.
A plataforma era o ultimo obstáculo.
Coloquei (na realidade joguei) a mochila na plataforma para me livrar de um peso extra que poderia atrapalhar a minha trajetória em direção a conclusão da minha odisséia. Senti-me como Ulisses chegando em casa depois de lutar na guerra de Tróia. Meu esforço era digno de Homero... eu me via como um deus no Olimpo.. pior, como um humano que invade a casa dos deuses! Quem sabe não iriam fazer um filme sobre mim?... As minhas duas mãos se apoiaram na plataforma, meus músculos se prepararam para o esforço final... meu corpo se abaixa para gerar o maior esforço possível, porque não sei se vocês sabem, mas osso pesa ( são 70 quilos de osso no meu caso...).
Dei o impulso...
Meu queixo faz um ângulo de 120 graus em relação ao meu pescoço... eu buscava o espaço... eu queria conseguir... eu precisava conseguir... meu corpo se levantou de forma heróica, e para evitar uma queda, coloquei meu corpo de lado, pois se levantasse uma das pernas, era bem provável não conseguir, devido a altura do ponto que tinha escolhido para saltar (que era bem mais alto do que o escolhido por Jean). Tudo estava dando certo: ia ser um impacto bem considerável na minha poupança, mas tudo iria terminar bem... iria cair sentado e, girando meu corpo para a direita iria pegar impulso para correr em direção a porta escancarada na minha frente...
Huahuahuahuaahua!!!
Eu deveria ganhar o premio Nobel da estratégia (se é que poderia existir algo do tipo)...
eu sou um gênio!
Eu cheguei a escutar aquela musica do Queen: we are the champions!
yes!!!!!!!!!

Até que eu avistei algo... Arregalei os olhos... nem o mais frio dos homens estaria preparado para aquela visão...

Aquilo...

Sim...

Aquilo...

Um tremendo de um catarro...

Verde...

Amarelo...

Com bolhas...

Imenso...

Pulsando...

Justamente no espaço entre as minhas mãos... levemente situado como se formasse um triângulo entre elas... Minhas duas mãos na base, o catarro na ponta...

Me esperando...

Imundo...

Desgraçado...

Algum bêbado dos infernos tinha deixado uma herança gosmenta e macia para mim...

Eu já tinha dado o impulso, já estava em pleno ar, minha bunda já estava direcionada para ele... não havia como evitar aquela merda...

Eu fechei os olhos e aguardei a sentença como um condenado a morte por fuzilamento (no meu caso, as balas seria verdes... bem verdes... com detalhes amarelos...)

Eu ouvi um som...

SSSBBLLLUUURRRFFFFFF...

Meu corpo deslizou sobre aquilo... e amassou aquela obra de arte digna dos mais altos círculos do inferno de Dante...
Estava lá grudado na minha calça a marca da infâmia... Quando levantei... sabe aquela pizza quando está fervendo, você corta um pedaço e o queijo vai se esticando...
Isso mesmo...
Imagina o catarro agarrado na minha calça... e quase me puxando pra trás...
Os olhos do Jean (que também conhecido pelo singelo nome de "noticia ruim") se arregalaram quase pulando pra fora das órbitas, seu rosto não sabia que expressão fazer... seu cérebro ainda estava escolhendo as expressões: nojo, pavor, risada, surpresa... ele fez uma cara que juntou todas elas... e coloriu com uma gargalhada...
Eu entrei no trem (graças a Deus)... tentando limpar o estrago...
E só tive forças pra fazer uma coisa...

Eu xinguei... e estava com uma biblia dentro da mochila... que decepção...


Com todas as minhas forças... minhas poucas forças, eu uni as minhas mãos na frente do peito e soltei uma imprecação do tamanho do catarro que estava espalhado pelo chão e grudado na minha calça... sabe aqueles gritos de filme que o moçimho faz quando alguem morre em seus braços? foi parecido...
Jean (duende pitinininhu) ria...
As pessoas olhavam... eu emudeci...
- Foi mal...
O trem fechou as portas e fomos rindo da vida até Belford Roxo...
Cidade do amor...
E do catarro grudado na calça.

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

The Blog Digest
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10:42 PM  
Anonymous Anônimo said...

hahaha! Mto maneiro o post!
Me lembrou Forest Gump, rsrsrs.

Abraços!!!

8:53 AM  
Anonymous Anônimo said...

Cacete espero que seja verdade essa que quando se entra na univercidade começa a fazer merda estou em um momento de aperfeicoamento pra comecar com isso. Vlw pela historia vou me cuidar quando for pular a plataforma

7:37 PM  

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