Growing up!

Aqui você encontrará meus delirios socráticos, minhas opiniões sobre assuntos diversos e obvio, um pouco da minha percepção de mundo. Tiago de Souza

sexta-feira, setembro 16, 2005

Freud não explica... "o Povo não "TREM" memória!"...


Sigmund Freud (1856-1939) na sua teoria psicanalítica aborda o conceito de repressão: sintetizando a idéia, durante a vida, algumas de nossas atitudes algumas vezes são orientadas por traumas sofridos em alguns momentos de nossa vida. Assim como nos sonhos, Freud considerava-se capaz de descobrir desejos ocultos nas áreas mais improváveis. Ele dizia que se tivesse tempo suficiente para tal, ele poderia superar as resistências do individuo, ele chegaria a identificação de um desejo oculto por trás de todo sonho e em alguns casos, de algumas atitudes do individuo. Bom, pra que esse papo freudiano?
Simples. Todos nós temos traumas. E segundo Freud, esses traumas aparecem para nos assombrar e nos levar a empreender atitudes que seriam anormais para aqueles que nos cercam. Existem pessoas que não andam em determinados veículos depois de sofrerem certas experiências traumáticas. Um acidente, por exemplo. Mas segundo Freud, em alguns casos, o agente que sofre o trauma esquece a própria situação que o levou a isso. Seria como se a nossa mente reprimisse a experiência. Essa seria a resistência que Freud se referia. Bom, pra que esse papo freudiano?
Todos temos nossos traumas. Eu também me incluo nisso.
Uma das atitudes mais anormais que eu tenho é a seguinte: eu nunca, mas nunca tento correr no metrô em busca de um lugar. Não importa que eu esteja na porta e um lugar vazio na minha frente. Pode ser que ele me chame. Pode ser que esteja escrito meu nome nele. Eu nunca vou dar aquela corridinha cínica para assegurar o meu lugar num coletivo suburbano. Simplesmente por que eu sou traumatizado. Mas ao contrario do que Freud dizia, eu lembro claramente de tudo. Pois cabe aqui uma ressalva: para todo pobre, é muito mais difícil lembrar do que esquecer. Pobre na maior parte das vezes não é vingativo. Por isso sua memória é tão curta. Tanto que pobre não tenta arquitetar um plano como por exemplo o famoso Conde de Monte Cristo, personagem imortal de Alexandre Dumas, que amargou anos até terminar seu plano de vingança. O único pobre que eu me lembre que fez isso foi a Tieta do Agreste. Mas ai não vale por que quando ela voltou só a alma dela era pobre... pobre não... pobre se vinga matando, e mata logo pra não esquecer... lembram daquele velho ditado : “Povo não tem memória”?
Eu não. Não esqueço de nada que me fizeram. Ainda mais se me fizeram uma merda. Ai é que eu não esqueço mesmo. Pode me chamar de tudo, menos de pobre. E de esquecido.
Vou explicar por que eu não corro no metrô em busca de lugar. Só se você prometer não rir.

Certo dia estava indo pra faculdade, e para aqueles que me conhecem, duas coisas: primeiro isso pode parecer um milagre (não era milagre pois eu estava no inicio da faculdade... e nessa época, tudo é alegria...) e segundo, eu sempre estou atrasado para meus compromissos. (Antigamente, eu usava a desculpa de que os samurais no Japão chegavam atrasados aos duelos para desestabilizar o oponente. Para mim isso legitimaria minha impontualidade. Péssima desculpa. Não tenho físico para ser um samurai, não considero minha espada como a minha alma, nunca vou cometer assassinato ritual e não nasci no Japão para fazer isso algum dia. Sem falar que o meu duelo no caso era contra o tempo. Um oponente que sempre vencerá qualquer um que se meta a besta com ele). Ainda mais se for pra assistir uma aula. Eu sempre estou atrasado para ser aluno. Eu odeio assistir aulas. Mas o lance é que estava posicionado esperando o metrô, pisando com alegria a faixa amarela no chão e escutando aquela musica morta que conduz os animais ao matadouro chamado “Cidade” (sabe aquela mania de pobre dizendo que vai “descer”? nada mais provinciano...), quando ele apareceu. Se você puder, algum dia observe os olhares das pessoas quando o metrô aparece no horizonte (isso mesmo, horizonte). Os olhos brilham, as pessoas sorriem aliviadas, elas relaxam, se você quer roubar um beijo de alguém, roube quando ela vê o metrô chegando na estação. Ela está desprotegida. É tiro e queda. Ou tapa e queda. Ele se aproximou coma delicadeza de um "pum" com carta de alforria num local indevido para a liberdade. Ele foi parando, e eu percebi que ele estava parando com a sua porta na minha frente. Os pobres se acotovelaram ao meu redor. Eu sorri de alegria quando vi que a abertura da porta estava a pouca distância do meu rosto. Vitória. Eu confesso que sorri, pois não era sempre que isso acontecia. Eu iria sentado até o Maracanã! Analisando a situação, pode parecer ridículo, mas se você já andou pela manhã no metrô da Pavuna sabe do que eu estou falando. É quase um trem, só que sem os vendedores, o jogo de cartas e o culto no vagão de trás. O mais engraçado é analisar os olhares dos pobres para dentro daquele trem do inferno:através do vidro, todos procuram uma brecha para suas carcaças. Olhei para o interior daquela lata de sardinha cinza claro quando eu percebi um lugar livre. Um não... vários! E o mais legal: um relativamente perto da porta e pintado de verde! Ou seja, os idosos não poderiam reagir ao fato de que eu iria sentado nele até o Maracanã... iria dormir (e se possível fingir que estava dormindo) para ficar com a minha mais nova conquista: o banco verde. Era o auge da minha manhã... era descanso certo... era a minha insensatez..
A campainha tocou e as portas fronteiriças ao outro lado do metrô se abriram. Velh... desculpe, idosos sentaram tranqüilamente nos lugares especiais para eles. Sorri com a bondade que transpareciam dos sorrisos deles. Pensei que um dia eu seria como eles. Meus pensamentos foram interrompidos por um silvo breve... BÈEÈÈÈÈÈÈÈ! a campainha tocou... as portas se fecharam e imediatamente, a porta que estava a minha frente se abriu.
Foi lindo!
Como uma manada de bois as pessoas correram em direção aos bancos. Eu fui um deles. Num movimento rápido, mas preciso, girei a minha mochila para o lado direito do meu corpo, para dar mais elasticidade ao meu corpo na hora de me jogar no banco e ai foi que eu vi...
Aquilo...
Pior do que a visão de um monstro... Mais tenebroso do que imaginar a Dercy Gonçalves nua... Mais terrível do que saber que seu salário não foi depositado no dia certo... Pior do que todos os seus medos somados e multiplicados por 10...
Eu vi uma bunda.
E não era uma bunda como você está pensando... Foi a maior bunda que eu já vi na minha vida... e isso não é um elogio...
Uma senhora imensa com uma bunda quilométrica veio correndo ao meu lado. Tremi.
Como Senna e Prost nos anos noventa, disputamos palmo a palmo cada espaço preenchidos átomos naquele trajeto em direção ao lugar verdinho (que naquele momento ocupava todos os meus pensamentos). Eu não iria ceder. Eu não iria diminuir o passo. Não ali. Não assim. Não para aquela aberração da natureza em forma de bunda e crateras de celulite alienígena. Senti-me como um guerreiro lutando pelo direito ao seu território, quase um Hitler e o seu Lebesraun: o meu espaço vital deveria ser conquistado a qualquer preço... Assim como o general francês Petáin na batalha de Verdun eu disse: “Ela não passará”. Assim como Stalin eu disse: “Não há nada além do Volga!”.
Só que o general Petáin barrou a Alemanha. Ele não teria nenhuma chance de barrar aquela bunda. Stalin proibiu seu exercito de recuar... mas ele correria para o colo do Roosevelt se ele visse aquela bunda...
A bruaca fez um movimento totalmente desconhecido para mim. Um gingado estranho, quase um golpe dos Cavaleiros do Zodíaco. Só faltou o nome do golpe, e os gestos para completar aquela verdadeira macumba. A bunda dela fez um giro de 360 graus, mas bem rápido, e com o impulso demoníaco, ela (a bunda) veio em direção a minha cintura. De lado.
Quando a bunda daquela jamanta do inferno bateu mais ou menos na marca da minha cintura, eu perdi o equilíbrio. Minhas pernas não agüentaram a pressão e bambearam... a mochila se perdeu do meu ombro, e deslizou abruptamente em direção ao solo...
Minha mochila...
Minha perna...
Minha bunda...
Meeeeeerdaaaaaaaaaaaa!!!
O mundo ficou escuro... eu vi tudo girando... meu equilíbrio se esvaia numa mistura de vultos e bancos verdinhos e laranjas... gritos... passos... o vazio... o nada... a bunda...
Eu caí... e a merda do metrô lotado... devo ter batido coma cabeça na perna de uns 5 com a pressão daquele golpe... só não rolei pra fora do metrô por que fui parado por alguma coisa que eu não vi direito... eu só via uma coisa: ela sentando no banco... e rindo...
E rindo...
E rindo com aquela boca com dentes mais brancos do que o mais denso Ovomaltine do Bob´s conseguiria ficar. Eu de pernas pro alto e aquela gorila sentada no banco que eu tinha escolhido pra mim!
Desgraçada!
E o pior: ela ainda se ofereceu pra segurar minha mochila... – Qué ki eu siguri? - Disse aquela mistura de Vera Loyola com Hebe Camargo...
eu respondi educadamente: -Não... obrigada...- Meus olhos queimavam, minha bunda doía. Minha mochila repetia pra mim: "- Bem feito... bem feito... quem mandou ser como eles..."
Baranga... bunduda...
Capeta dos infernos...

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Estou aqui cheio de sono e me lembrei que vc comentou em sala que tem um blog entrei e estou rindo deve ter uns 5 minutos cara e verdade pobre nao tem memoria se tivesse de tanta porrada que ja toma todo dia o pais amanheceria sem governo. Cara esse seu blog ta manero vou entrar mais vezes e comentar alguma coisa de relevate da proxima vez eu prometo um abraco.

7:42 PM  
Anonymous Anônimo said...

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