Growing up!

Aqui você encontrará meus delirios socráticos, minhas opiniões sobre assuntos diversos e obvio, um pouco da minha percepção de mundo. Tiago de Souza

sexta-feira, outubro 07, 2005

Racismo no Brasil? onde? cadê?

Aviso: leia o texto inteiro antes de me chamar de racista e preconceituoso. Se quizer me processar, eu conheço otimos advogados. Você nunca vai conseguir...

huahuahuahuahuahuahuahuahuahua!!!!!!

Divirtam-se com essa historia louca criada por uma mente mais louca ainda... a minha... rsrs

“Atenção caros passageiros... Por favor, queiram se acomodar nas poltronas, o nosso avião irá decolar em poucos momentos. Desejamos uma ótima viagem nas asas da White Arlines Company International... Obrigado por voar conosco, a companhia aérea 5 estrelas onde o tudo é sempre azul...”
A voz aveludada saía pelas pequenas caixinhas espalhadas pela superfície do avião, e tinha o claro objetivo de tranqüilizar a mente perturbada de alguns passageiros e também de pedir educadamente que os agoniados sentassem nas lindas poltronas cinza aveludadas. A voz passava uma impressão de impactante tranqüilidade, era de uma sensibilidade quase robótica, uma espécie de “mantra” a ser recitado sempre que as coisas começassem a dar errado. Roginelson estava se sentando na sua poltrona, ela tinha um número 05 estampado no teto. Ajeitou sua pequena bagagem de mão no espaço destinado a ela e se sentou firmemente, como se estivesse descarregando todo o peso do corpo (e estava realmente) na linda poltrona cinza aveludada.
Era um vôo para a Dinamarca (putz... não tinha lugar pior não?!), viagem a negócios, a firma estava se expandindo, era necessário estreitar os laços, conhecer a nova base de negócio, concluir um perímetro da região, blá, blá, blá...
Antes de concluir o pensamento (técnico demais), ele se levanta: a vontade de ir ao banheiro falou mais alto. Era óbvio que o nervosismo tomava conta dele. Quando ele se levantou para ir ao “toalete”, subitamente sente algo impedindo a sua passsagem: ele esbarra em um armário que tinha se colocado entre ele e o seu alvo: o banheiro.
Que bosta... pensou: era só o que me faltava...
O homem espumando de raiva dispara:
- Escuta aqui, ô crioulo...
Roginelson sentiu o sangue subir pelas tabelas. Levantou o rosto lentamente e inconscientemente ajeitando o paletó diz entre os dentes:
- O que foi?
- Ai meu Deus... até aqui eu tenho que aturar preto...
Incrédulo, Roginelson esbugalha os olhos e quase tremendo de raiva, se controla para completar o seu questionamento:
- Meu senhor... com toda a delicadeza...
- Onde já se viu? Delicadeza? Essa é ótima... isso é algo que falta em vocês...
Não... agora já era demais... o safado com cara de gringo iria ter o que merecia...
- Como ousa me desrespei...
- Ah... para com isso... vai dizer que me acha racista hein?... hoje isso é desculpa pra tudo...
- Como assim? Vai dizer que essa sua atitude não é nem um pouco racista seu... seu...
- Opa... opa... vê lá o que você fala hein?... por acaso, você sabe com quem está falando? – Disse o homem com um sorriso quase satânico nos lábios.
- Dane-se!Dane-se! Não quero saber quem você é seu racista de uma...
- Eieiei...Para de fazer show marrom bombom... para de graça por que isso já é negrice sua...
- Seu louco! Aeromoça... vem cá... vem cá... – sua mão repetia o gesto de “vem cá” sem parar.
- Ih...Alá! Alá! Já vai arrumar bagunça... é fogo: negro quando não faz na entrada faz na saída...
- O que foi senhor? –respondeu a aeromoça mais loira do que a Xuxa.
- Esse senhor está me desrespeitando!
- Que isso pelézinho... eu estou sendo muito educado... estou falando tão baixinho... não é pessoal?
O povo do avião respondeu num coro confuso, ninguém entendeu de que lado o populacho estava, mas Roginelson pode ouvir claramente alguém dizer que a situação iria começar a ficar preta.
- Alá! Merda! Ouviram?!?! ouviram?!?! Isso aqui é o quê? Ultima parada: apartheid?
- Viu só como é que vocês melhoraram nesse meio tempo? Até que a Isabel fez um bom trabalho... vosmicê falou até uma palavra estrangeira... apartheid... quase um José do Patrocínio!
- Seu bosta! Eu vou te tritu...
- Já falei zulu... pára de fazer zona aqui... tem criança no recinto!
Roginelson corou. Era verdade. Tinha um pirralinho que mais parecia um ratinho. Um ratinho albino.
- Desculpa...
- Isso... olha, vamos fazer o seguinte: explica pra aeromoça o que está acontecendo aqui, macaco.
- Aeromoça, esse senhor está sendo muito mal educado. Queira lembra-lo, por favor, que assuntos desse tipo podem ser resolvidos em tribunais! – disse isso levantando na ponta dos pés e com o dedo indicador em riste. Pareceu ter o dobro do tamanho que tinha.
- Uiuiui... que medo...
- Os dois poderiam, por favor, se acalmar? – disse a aeromoça sem perder a compostura.
- Tá bom... mas fala pra ele pedir desculpas...
- OQUÊ?!?!?!?!? Foi você quem me ofendeu! você é quem tem que me pedir desculpas!
- EU?!?!?! Tá maluco beiçola? Eu hein? Onde já se viu?
- Isso é racismo!!!!! – vociferou se babando, sem notar que o fio de saliva escorria do canto direito da sua boca.
- Putz... vai começar a babar... meu Deus... deve estar com raiva... - O homem parecia se divertir com tudo aquilo.
- Seu bosta!!!!! – era um grito quase desacreditado. Roginelson parecia não acreditar em nada do que ouvia.
- Vamo lá – disse o gringo num português macarrônico – vou te provar que esse lance de racismo é papo furado.
- D-u-v-i-d-o! – Roginelson soletrou e pensou: Esperança! Hope! Eu sei! Ela existe! Vou acabar com ele agora! Meu Deus me dê forças nessa cruzada, não me deixe enfraquecer...
- Então tá, beiçola... nessa confusão toda, eu meti a mão na sua cara alguma vez?
- Na-não, claro que não, mas...
- Quando você gritou pela aeromoça, uma senhorita direita, recatada, eu não disse nada, mas você foi muito grosseiro! Nem pediu “por favor”... – falou isso fazendo biquinho – eu nem falei que você deve ter confundido ela com uma empregada de cabelo ruim, pois preto é assim mesmo... bem burro...
- Meu Deus... Meu Deus...
- E ai? Onde é que está o racismo?
Roginelson se preparou para disparar uma saraivada de argumentos que ele tinha preparado para uma situação dessas, mas foi interrompido novamente: uma senhora gorda tomou a palavra:
- Moço! Outro dia eu tentei entrar num clube e não deixaram por que eu sou preta! – o sorriso vazio da mulher causou espanto em todos.
- Bom, mas péra um pouquinho... ai também já é demais... Vocês não tem o clube de vocês? Vão querer invadir o nosso também? Virou quilombo agora?
- Mas isso é racismo! – o fio de baba voltou a escorrer.
- Racismo coisa nenhuma, floco de neve! Racismo é quando a gente faz diferença entre as pessoas por causa da cor da pele, como nos EUA. Aqui, é uma coisa completamente diferente: Nós estamos falando do crioléu começar a freqüentar clube de branco, assim sem mais ou menos. Nadar na piscina e tudo... onde nós vamos parar?
- Sim, mas eu...
- Não senhor! Por um acaso eu quero entrar no clube de vocês? Deus me livreguarde!
- Não...
- Tenha paciência nego! Eu não faço diferença entre branco e preto. Agora... eles lá e eu aqui... Há um limite né...
- Pois então. O negócio é que...
- Você precisa aprender a se por no seu lugar só isso. Só isso.
- Mas...
- E digo mais! – ele foi repetindo e baixando o tom de voz para dar mais força à mensagem – O Brasil é o melhor lugar do mundo por que o negro sabe qual é o seu lugar! Por isso eu sempre passo as férias aqui!
- Por Deus... cala a bo...
- Voces jogam bola, dançam no carnaval, até em olimpiadas vocês vão... agora, trabalhar duro, nada né... caçar serviço, uma enxada... mas falô num carnaval, numa cachaça todo mundo quer né?... cambada de safados!
- Seu... seu...
- Ah... mas quer saber... vamos deixar esse papo pra lá... bate um samba ai que é o que vocês fazem melhor...
Roginelson sentiu uma sensação terrível. O mundo estava rodando: já era demais, todo aquela situação. Era demais pra ele... foi quando ele acordou.
Estava dormindo.
E suando.
Tudo tinha sido um sonho. Deve ter dormido na poltrona. Nervosismo era a explicação.
Ufa...
Ainda bem...
Levantou e meio acanhado, procurou por alguém no avião que se parecesse com o cara do sonho.
Ninguém.
Notou que o avião já tinha decolado.
E por incrível que pareça, estava caindo.
O avião perdia altura de forma assustadora.
O pânico invadiu o avião. As pessoas gritavam. As máscaras caiam. Seu coração parecia que ia saltar pela boca: Meu Deus... eu não quero morrer... eu não quero morrer! Eu não que...

Foi interrompido por uma voz que vinha da cabine do piloto e era transmitida pelos autofalantes, pelas pequenas caixinhas espalhadas pela superfície do avião, e que tinham o claro objetivo de tranqüilizar a mente perturbada de alguns passageiros e também de pedir educadamente que os agoniados sentassem nas lindas poltronas cinza aveludadas:

“Por favor, senhores passageiros, perdemos altitude devido a problemas nas condições de vôo. Poderemos vencer as intempéries se fizermos uma operação simples, mas extremamente sacrificante. Teremos que nos desfazer de algumas coisas do avião para equilibra-lo e finalmente recuperar altitude. Nos desfizemos de toda a bagagem, mas não foi o suficiente. Algumas pessoas terão que se martirizar para que o avião possa voltar a seu curso normal. Mas como isso é extremamente terrível para alguns, poderemos fazer do seguinte modo: ao invés de esperarmos uma reação dos senhores passageiros e prolongarmos a nossa agonia, faremos o seguinte: quem se encaixar nos padrões de uma lista de precondições determinada pela torre de comando e que já foi autorizada, está convidado a se dirigir ao local determinado pela equipe técnica do avião e esperar as portas se abrirem. A despressurização irá leva-los para fora da nave. Mas tudo terminará bem. Vocês serão lembrados como heróis. Bom. Infelizmente, temos que começar: Vamos lá: o critério será alfabético. As pessoas que tiverem as seguintes características deverão fazer o que já foi especificado. Por um acaso aqui nesse avião tem algum...”
A voz foi ficando cada vez mais macabra...

- Tem algum: afro?; black?; crioulo?; douradinho?; escurinho?; fuligem?; gamgazumba?; jabuticaba?; limpinho da cor do esgoto?; macaco?; negrinho?; pretinho?; queimadinho?; rascunho de gente?; sarará?; tição?; urubu?...

Ele gritou. Com todas as suas forças.
NNNNNNNãaãããããããããããÕOOOOOOOOOO!!!!!!!!!!!!!!!

Roginelson acordou... de novo...
Suava em bicas, e pensou, meio que chorando pra si mesmo: será que o próximo sonho vai ser melhor?
A viagem foi tranqüila, mas ele continuava assustado...
Desceu do avião cantarolando uma velha canção: "Nega do cabelo duro... que não gosta de pentear... "

Afinal, a vida continua. Pelo menos ela não está tão preta assim.

Boa viagem Roginelson...