Growing up!

Aqui você encontrará meus delirios socráticos, minhas opiniões sobre assuntos diversos e obvio, um pouco da minha percepção de mundo. Tiago de Souza

terça-feira, setembro 26, 2006

Orkut


Muito já se falou e escreveu sobre o Orkut. Teses absurdas coabitam com hipóteses estapafúrdias quando o assunto é o site de relacionamentos mais conhecido senão do mundo, pelo menos do Brasil, pois os internautas brasileiros, hoje em dia, só pensam nele. Do digitar a primeira senha do dia até o insosso “Seu computador pode ser desligado com segurança”. Profetas do Apocalipse já disseram que ele seria um instrumento de dominação de satã, e que a frase “Bad Server” teria poderes malignos se pronunciada seis vezes numa sexta feira 13. Outros, repetem a mesma abordagem aplicada ao MSN: se um dia esse site sair do ar, suicídios em massa serão registrados em todo o mundo, o que na realidade, convenhamos, tem uma certa verdade.
Entretanto, a tese que vou abordar aqui é inédita. Ela é minha. Vou registrá-la um dia. Ela receberá meu nome. Quem sabe um dia chamem-na de tialoguismo. Pois é. Mas na realidade, ela é boa mesmo. E vou mostrá-la pra você, meu único leitor nesse momento (o que também é verdade... meu blog está tendo tantas visitas quanto jogo do Heliópolis com o 19 de piraçununga).
O Orkut é uma excelente ferramenta para encontrar pessoas, rever amigos, convidar pessoas pras suas festas, lembrar de aniversários, encontrar futuros namorados (as), criar e entrar em comunidades sem nenhuma utilidade, mas, ao mesmo tempo, o Orkut uma das armadilhas mais cruéis que o ser humano já criou na face da terra. Pelo menos para nós brasileiros, essa armadilha é mortal. Pelo simples fato de que nós, brasileiros verde-amarelos, damos um grito de felicidade ao rever pessoas “esquecidas e perdidas”, mas não temos a mínima vontade de mantermos esses contatos. Adoramos quando encontramos aquele colega que não víamos a muito tempo, mas odiamos ter que aturar as mensagens que ele manda pra gente todo o dia. Você vê no seu email que aquela gata mandou uma mensagem pra você: você vai correndo pro Orkut e quando vê seus scraps, se depara com uma mensagem do tipo:

“Uma Borboletinha voou e me contou que seu dia será cheio de...”

Você fica tão enfurecido que nem lê o resto...

Imagine agora o drama. Aquela colega seu do primário que você nunca mais viu está lá no seu Orkut. Ela era linda. Você entra na página dela e descobre (para seu desespero) que ela está horrenda. Feia. Já teve um filho. Não terminou o Ensino Médio. Adora Funk. Está na comunidade “To solteira, sou praiera quero mais o quê?”. Você rapidamente sai da página dela. Mas ela viu. E entra na sua.
Acabou seu sossego. Ela quer por que quer marcar um daqueles encontros pra reunir “toda a galera do “Centro Educacional Coelhinho Tarado”.
Imagino que daqui a alguns anos, o Orkut será uma vitrine de pretérito (Viu? Viu? Acabei de criar outro conceito”), pois lembraremos do nosso passado perturbador. De situações que não queremos lembrar, pessoas que queríamos esquecer, todas estão ali. Adicionadas. Os casos. As paqueras frustradas. As pessoas inconvenientes. Os chatos. O namoro de Carnaval que insiste em ligar. Colegas que são simplesmente “colegas”. Alunos. Professores. Colegas de trabalho. Vultos.

Desconhecidos.

Desconhecidos que adicionamos como “amigos”.

Ao mesmo tempo, nós queremos acabar com isso e queremos ficar no Orkut, porque não queremos perder os contatos conquistados a duras penas (e espiadas nas paginas dos outros). Eu fico pensando nas pessoas que eu conheço hoje e como elas serão daqui a alguns anos. Acompanhar as pessoas envelhecerem de perto é uma coisa. Acompanhá-las de longe é torturante. Ver as fotos mudando aos poucos. Os gostos mudando aos poucos, alguns melhorando como o vinho, outros piorando como uma cachaça no canto de um bar com azulejos azuis. Ver casamentos, lamentar divórcios, alegria de ver mais um filho nas fotos, chorar pela morte de um outro, entrar na página daquela pessoa procurada a séculos, não entrar mais na página de um amigo, pois onde ele está (“Aqui jaz”...), nunca mais vai poder digitar a senha... Confesso que é tudo muito estranho. Prefiro pensar nas pessoas do jeito que elas foram quando estavam perto de mim. Não de longe, num profile azul de aparência fria.Nós não estamos mentalmente preparados pra isso. Nossas relações tendem a serem fluídas demais. Se você encontra alguém na rua e diz: Passa lá em casa! Você só diz isso por uma questão de educação. Na realidade, não queremos que ele vá à nossa casa. Isso é a mesma coisa que dizer: “Tudo bem” pra uma pessoa na rua.
É algo normal. Banal. Sem nenhum tipo de seriedade.
Imagino como as pessoas vão ficar daqui alguns anos ao observarem que nem todas aquelas pessoas de ontem deram certo hoje.
Estranho.
O Orkut me parece mórbido. Distante. Como se fosse uma criação de um cara numa sala escura de algum lugar do mundo com um plano de dominação mundial estirado numa mesa. Confesso que às vezes, eu torço pra entrar na net e não encontrar mais a página. Descobrir que acabou. Sei lá...
Mas ao mesmo tempo, quero saber quem deixou um scrap na minha página.
Falando nisso, vou ver se deixaram algum por lá hoje...