Growing up!

Aqui você encontrará meus delirios socráticos, minhas opiniões sobre assuntos diversos e obvio, um pouco da minha percepção de mundo. Tiago de Souza

sábado, fevereiro 18, 2012

Sindrome de Coringa

"If you’re good at something, never do it for free".
"Se você é bom em alguma coisa, nunca a faça de graça"
Coringa
O facebook é uma excelente veículo para idéias, mas também camufla a hipocrisia de muita gente. E um dos cartazes que eu mais vejo sendo compartilhado é o de que musico deve receber pelo que faz, que musico deve ser reconhecido e outras coisas mais. Não quero dizer que não concordo ou que concordo com a opinião de ninguém. Essa é a MINHA opinião, e por enquanto, ninguém me mostrou que devo seguir na contramão dela.
Dito isso, sigo em frente.
Já cansei de ensaiar de graça, e já recebi por ensaios. Já toquei de graça e já voltei rindo a toa com um cachê. Se um AMIGO me chama pra fazer um trampo que eu acredito ser sincero e que a grana seja pouca, eu vou. Nunca vou negar uma força pra alguém que me é proximo. Se vai ter ensaio e as pessoas que estão no trabalho são minhas amigas, eu ensaio e toco numa boa, mesmo não recebendo por ensaio ou pela gig. Musicos ainda são profissionais 'romanticos" (no sentido que a palavra tinha no século XIX) ou seja, o coração fala mais alto que o bolso em alguns momentos. Se vai rolar uma gig e eu acredito que ela irá me impulsionar artisticamente ou ajudar no meu crescimento musical, porque não participar se a $ não for tããããão legal? E se ela for uma gig de pessoas que eu tenho AFINIDADE musical e de vida, porque dizer: SÓ TOCO SE FOR GANHAR 2x$? Porque esse papo furado de que "não trabalho de graça"? Desculpa pessoal, mas isso depende. As vezes, pra que seu trabalho seja reconhecido, vc tem que perder, pra depois ganhar. Pra alguém que está chegando como eu, não tem lógica querer bancar o "sinistrão" e dizer que só me dou bem. Pelo contrário. As vezes o cansaço e a dor de cabeça de uma gig não compensa o cachê que eu levo pra casa. Isso pra não falar que tocar querendo agradar aos "medalhões"da música, acaba virando uma armadilha "musicalmente" falando, pois no final, ou gostam ou não gostam de você. Entre chamar você e alguém que é proximo a eles, vc acaba entrando numa fila de pelo menos um monte de gente. Por isso, CULTIVE SUAS AMIZADES MUSICAIS porque são elas que mais tarde estarão nos holofotes, e se você estiver numa pior serão elas que vão te chamar nos momentos de vacas magras. E se você estiver nos holofotes, lembre-se de suas origens. De quem ralava com você e não APENAS (eu disse "apenas") dos que podem te levar a lugares "mais altos". E isso sem falar que TOCAR MUITO as vezes não faz a menor diferença. Se você resolve, você é chamado independente do numero de escalas e de fusas que você "acha" que toca. Quem conhece a história do pianista Lang Lang sabe que ele começou fazendo "subs" de outros pianistas e ganhando menos que eles. As vezes, não ganhando nada. Só que a diferença é que ele não baseou seu talento visando somente a $$$, mas sim sabendo que cada degrau que ele pisava o levava a pessoas que conhecem pessoas que conhecem pessoas. Quando ele viu, estava tocando no Cannergie Hall. E ai? ele está certo? Bem, é apenas um caminho. Uma opção. Um monte de músicos dariam seus pedais e pratos pra estarem em gigs "famosinhas". Outros são capazes de jogar "jogos mortais" pra isso. Inclusive, sacaneando pessoas e depois com a cara mais limpa do mundo dizem que é "Música é arte, e não competição". Por isso, eu repito: vamos deixar um pouco as falácias, a vagabundagem "facebokiana" e vamos trabalhar duro. Mas sem delirar com as idéias de pessoas que vivem numa realidade totalmente diferente de você. Tenho amigos que ganham bem tocando, outros que estão na batalha e "roendo o osso" que outros deixam pra trás e ummonte de pessoas que daqui a pouco tempo estarão fazendo outras coisas. Mas todos estão RALANDO pra se dar bem. Se nós musicos não somos reconhecidos pelo nosso trabalho, é por causa de uma grande parte de outros "pseudomusicos" que "abrem as pernas" pra cantores, pastores, empresários e pasmem, outros músicos que dão merrecas e um guaravita, e que se eu recusar, sabem que um monte de "batedores de bateria" vão levantar a mão e dizer que o repertório já está escrito a um tempão, porque "Deus já tinha dito que aquela gig era dele". Mesmo que depois do "show" levem 30 reais pra casa e tapinhas nas costas e alguns "Nooooossa... tu tá tocando muito hein...".
É facil dizer que não toca por que não precisa, mas... e quem realmente precisa da grana? A questão é muito mais complicada pessoal.
Repetindo. Se eu ACREDITO no trabalho, se eu sei que a galera está trabalhando HONESTAMENTE e que todos vão receber igualmente, se vão sacolejar na mesma van, se vão me ajudar a guardar a minha bateria no case depois do som, eu vou por um cachê que eu recusaria se fosse feito em outras condições. Se é um som que me dá vontade de tocar ou um cantor/trabalho que seja produzido por um brother meu, ou qualquer outro som que eu me sinta bem tocando ou que eu simplesmente queira tocar, podemos conversar e nos entender se o cachê for abaixo das minhas expectativas. Se eu recusar, pode ter certeza que deixarei a porta aberta para um futuro convite. Mas nunca aceitarei viver de migalhas. Agora, depende de nós músicos termos HOMBRIDADE e HONESTIDADE de lutarmos pelo que nós merecemos. Desculpe se você não concorda com o que eu escrevi, mas creio que quem tá na batalha da vida concordará.
No livro "O Triunfo da Música" (Companhia das Letras) o historiador Tim Blanning escreveu que músicos querem apenas 4 coisas no que diz respeito a sua arte: DINHEIRO, ESTABILIDADE, CONTROLE de sua obra e RESPEITO.
E ai? nós, eu e você, já conseguimos o quê?
Abraço.