Growing up!

Aqui você encontrará meus delirios socráticos, minhas opiniões sobre assuntos diversos e obvio, um pouco da minha percepção de mundo. Tiago de Souza

sábado, janeiro 21, 2012

This Charming Man


"Para que se preocupar com a complexidade da vida
Quando o couro corre macio
No banco do passageiro?"
Morrissey


Me lembro que uma vez quando criança, deitado na cama comecei a pensar no inicio do universo. Sabe, aquela coisa toda de que Deus tinha criado tudo. Desde criança isso sempre me intrigou. EU sempre tive uma espécie de curiosidade sobre o espaço e adorava ler sobre astronomia. Várias vezes eu me pegava observando as estrelas e de acordo com a sua cor, saber se elas eram "novas" ou "antigas". Queria muito descobrir uma anã branca ou ver uma Supernova. Eu não tinha muita noção de que o brilho da estrela que eu estava observando na realidade tinha "acontecido" a quem sabe centenas de anos atrás e só agora a luz dela chegava até os meus olhos, mas ainda assim acreditava que eu poderia assistir a uma Supernova.

Tá, eu não devia ser mesmo uma criança normal.

Sei que num momento da minha divagação, me peguei pensando: "- Mas... Como Deus surgiu? Quer dizer, antes dele.. como as coisas aconteciam (ou não aconteciam...)?". Fiquei chateado por que não conseguia imaginar como as coisas eram ANTES de Deus. Sabia que seria meio que impossivel, pois toda a minha educação cristã (dá-lhe Richard Dawkins... né Felipe?) foi direcionada a aceitar que Deus era o inicio de tudo. Mas eu ficava pensando: - "Mas como ele surgiu? ele SEMPRE esteve aqui? Será que existia um vazio e de repente dois "olhos" se abririam e Ele entendeu que era uma espécie de... Deus... Isso é muito obscuro! Melhor não pensar nisso se não posso ser fulminado..." - E quanto mais eu pensava menos eu conseguia formar imagens na minha cabeça sobre o principio de tudo.

Mais tarde, eu descobri que estudos demonstraram que o cérebro humano não tem capacidade de formar imagens sobre a eternidade, seja ela pra frente ("Como tudo era antes? e antes? e antes de antes?") e também não coseguimos pensar profundamente sobre a eternidade futura ("Quando eu estiver a pelo menos um bilhão de anos no céu, eu mudo de nuvem...").

E me peguei tendo essa sensação nessa ultima madrugada.

Hoje de madrugada (dia 20 para 21 de janeiro de 2012), estava lendo a biografia do Glenn Gould, um brilhante pianista canadense, já que tinha acabado de terminar o livro três das Cronicas de Gelo e fogo e estava meio chateado pelo fato do livro quatro ainda não ter saido. Li que em 1977 a NASA enviou duas naves chamadas Voyager para romper as fronteiras do sistema solar (para mais informações sobre elas, visite http://pt.wikipedia.org/wiki/Voyager_1 ). Com as naves foram enviados desenhos de como são os seres humanos, alguns objetos, fotos e sons gravados num disco de cobre que podem ser ouvidos num aparelho, obviamente enviado junto das demais coisas, assim como um manual em desenhos para que se ALGUMA COISA encontrar tudo isso, possa ligar e ouvir alguns sons da terra: baleias, pássaros, barulhos de cidade e entre musicas como Luis Armostrong e trechos da flauta mágica de Mozart, algumas peças de Bach executadas por Gleen Gould. O livro termina assim:

"Em cerca de 40 mil anos, ambas as naves deverão passar a um ou dois anos -luz de uma estrela de quarta grandeza. Voyager II deverá passar a uma distancia semelhante d eoutra estrela 110 mil anos mais tarde e cerca de 75 mil anos depois disso a Voyager I passará talvez em Taurus (http://pt.wikipedia.org/wiki/Taurus). Se alguma patrulha espacial em Taurus vier a reunir-se numa dessas naves daqui a 500 mil anos (!!!!!!!!!) e se as autoridades porventura abrirem o achado e conseguirem decifrar as instruções desenhadas e descobrirem como tocar o disco de cobre que contém o primeiro prelúdio e a fuga do Cravo bem Temperado de Bach, Só DEUS sabe o que irão pensar de Glenn Gould, que está e não está lá, ou de nós".

Isso me lembrar de uma coisa que tem me incomodado muito nos ultimos tempos e incomoda provavelmente o humem a milhares de anos. Que importancia eu tenho? Pra que tudo isso serve?

Nossas vidas se comparadas ao resto do cosmo, são como suspiros, peidos cósmicos. Já dizia o apóstolo Tiago num dos livros mais filosóficos da Bíblia que somos como ondas que vem e que somem quando chegamos perto da praia. Essa metáfora é interessante, pois é triste saber que quando estamos mais perto de conquistarmos o domínio de determinadas situações... morremos. Já parou pra pensar que nós usamos nosso pouco tempo de vida para nos dedicarmos a coisas que simplesmente irão se perder com o vento? E o pior. Pessoas vivem como se tivessem mais pelo menos umas cinco vidas. Alguns passam a vida inteira a beber, farrear, a não fazer nada, a se acomodar com um emprego burocrático, com uma casa caindo aos pedaços, a um casamento ruim, a ir a igreja por obrigação, a fazer o curso que se pai quer que você faça, a só saber tocar três notas num violão, a nunca ouvir ultima seção da nona sinfonia de Gustav Mahler, a simplesmente inchar e morrer. Não estou dizendo que algumas das coisas que eu citei antes sejam de todo ruins. As vezes é só uma fase, mas quando a fase se estende por ANOS, é porque as coisas não estão muito boas. O que eu quero dizer é que as pessoas se esquecem que um dia elas irão acabar e se minha fé estiver correta, não terão chance de voltar a viver de novo para fazer tudo o que não conseguiram. Já disse uma vez que eu adoraria ter pelo menos umas três vidas. Seria o suficiente para que eu descansasse em paz, pois tudo o que eu não conseguisse fazer numa delas faria na outra, sendo que a ultima vida seria uma total corrida contra o relógio. Como pode alguém matar seus sonhos aos vinte poucos anos? Alguém simplesmente chegar num ponto aos 25 e saber que ela ficará ali até o fim de seus dias? Não haverá crescimento, somente o passar dos tempos: filhos, engordar, pagar as contas, ir pra Sepetiba contando as moedas, consertar o telhado que está com infiltração, gritar com os filhos, ver o salário aumentar alguns poucos reais, finalmente ter um plano de saúde, sentir fisgadas no peito, ler UM livro, usar óculos, parar de fumar, sentir mais fisgadas no peito, ver tudo ficando escuro e...
Estabilidade faz bem pro nós, seres humanos, precisamos de zonas de conforto, mas ficar a vida num único porto é pior do que a morte. Você que está lendo isso (estará?) sabe assim como eu que existem coisas na vida que podem paracer pequenas, mas fazem toda a diferença. Sei disso. Mas... e quando a vida é feita SOMENTE de coisas pequenas?

Pense em música.
Temos que ter a "sorte" de termos contato com música num determinado momento de nossas vidas, de termos condições de bancar ou "ganhar" nossos estudos, de pais que nos dêem instrumentos, de termos tempo para nos dedicarmos a ele e gastamos inúmeras horas do nosso tempo precioso e escasso para qualquer um chegar e dizer: "- Nha.. fulano? não curto o jeito de tocar dele não... prefiro beltrano". E ainda assim, temos que lutar contra nós mesmos, pois o cérebro que tocar uma coisa, mas nosso corpo não responde. E quando finalmente dominamos uma parte de qualquer estudo, o YOU TUBE e as crianças asiáticas chegam e destroem nossos sonhos. Mas, aprender a tocar um instrumento, conseguir trabalhos, fortalecer laços musicais, estar em gigs de sucesso ou de relativo sucesso, gravar cds e dvds, sair em revistas, receber patrocinios.. no final das contas.. valerá a pena? Iremos olhar pra trás e dizer: "-Nossa, Isso foi fantástico". Quando a professorinha dos nossos filhos perguntar o que o papai ou a mamãe faz, o que eles dirão? Eles terão orgulho em dizer "Meu pai é músico". E nós? teremos orgulho de tudo o que estamos fazendo?
Me pergunto: daqui a 30 anos, o que nós músicos estaremos fazendo? teremos trabalho? teremos espaço? quanto de nós estarão fazendo as mesmas coisas? quato terão abandonado a música? Quantos estarão vivos? quantos ainda terão pique para tocar de graça? Quantos estarão com seus direitos trabalhistas em dia? aposentados por inteligencia financeira aplicada, por invalidez ou por falta de trabalho? Estaremos tocando as mesmas coisas de 2012 ou iremos estar degraus acima em níveis de técnica, musicalidade, bom gosto, respeito profissional e trabalhos? Teremos casa e composições proprias? nossos filhos irão estudar em boas escolas? teremos filhos? e carro? iremos ser submissos a vocalistas patéticos e cantoras sem graça? nosso cachê será o mesmo? Viveremos como nossos pais? Ou teremos orgulho de tudo o que estamos fazendo HOJE?
Pessoas perdem pedaços de suas vidas para algo que irá durar no máximo o tempo de um hit na rádio.
Nem todos somos potências musicais como Mozart, Wagner, Miles, Beethoveen, Lennon e Mccartney, Jobim e tanto outros. Alguns de nós nunca passaremos de músicos limitados, alguns nunca farão "fama" e outros não terão "sucesso". Mas... será que é por falta de oportunidade ou por apenas um excesso de acomodação? Não digo acomodação daquela que nos faz dormir de tarde mesmo sabendo que tem coisa pra fazer, mas aquela que começa na mente e diz: "-Ah... aonde você está tá dando tudo certo. Pra que estudar mais um pouco? pra que respirar outros ares musicais? Vai curtir a vida!". Não sei se o Glenn Gould curtiu a vida do jeito que nos achariamos que seria "curtir". O cara era um, desculpe-me a palavra forte, um oprimido: hipocondriaco, cheio de manias, desconfiado, não se casou, mas mesmo assim deixou sua marca para a posteridade de forma absoluta. Esse foi o preço que ele pagou. Sua genialidade era acompanhada de traços que o faziam ser um dos caras mais estranhos do meio musical, mas, ele achava isso um fardo? Acho que não, pois essa era a vida que ele escolheu e o cara foi diretor de documentários, estrela de tv, composito rmediano, regente e claro, um pianista absurdamente fenomenal. Mas quantos de nós não estão fazendo o menor esforço para que essa "Vida" que lhe foi dada como um presente seja algo que realmente tenha valido a pena? Você ajuda pessoas? as pessoas pensam o que de você? está satisfeito na sua profissão? está mesmo ou está se enganando? O que você já conquistou na vida? Se nada, qual sua posição no seu plano para chegar a algum lugar? qual seu objetivo de vida? você acorda sabendo que boas oportunidades de VIDA e não de $$$ irão se apresentar a você? O que você prefere? dominar uma peça musical que sempre foi sua inimiga ou ir pra praia? Entre um carro e aquele instrumento que você sempre sonhou em ter, o que você escolheria? A vida realmente é feita de escolhas, e como disse Kierkeegard, são elas que nos levam ao desespero. Sei que em alguns momentos prefiro um carro a uma DW, mas, sempre será assim? um carro, um apartamento, uma promoção, UMA GIG estarão sempre acima de valores, sonhos, vontades, verdades, honra e fé? A vida está valendo a pena PRA VOCÊ? Já pensou que tudo isso irá passar e que pessoas virão e sua história será conhecida entre elas? Ou você será esquecido até mesmo por aqueles que conviviam com você?
Glenn Gould não será esquecido. Nem por nós nem por ETs...


No final de Blade Runner (alguém já viu esse filme? que velho você é.. haha), o androide "chefe" fez para mim uma das cenas mais tocantes do cinema. Assista e tente encontrar a resposta para isso:

http://www.youtube.com/watch?v=tKnv_lI2wHQ

Somos como Lágrimas no vento.
Mas existem lágrimas que são inesqueciveis.


GUp.



A) AS VOYAGER 1 E 2 CONTINUAM SENDO MONITORADAS e agora integram a “Missão Voyager Interestelar”. Seus sinais devem continuar chegando a Terra por mais uns 20 anos, ao contrário da Pioneer 11, que esgotou seu gerador de energia e sua última comunicação foi recebida em novembro de 1995. A Pioneer 10 também não se comunica mais com a Terra.
New Horizons é a mais rápida, e graças a técnica da assistência gravitacional, as Voyager 1 e 2 são as que estão mais longe, atualmente nos limites do Sistema Solar, já perto de começa a influência de outros sóis.
Um dia elas deixarão o Sistema Solar definitivamente e penetrarão no reino das outras estrelas da galáxia. Mas quando isso acontecer, provavelmente serão objetos inertes, meras lembranças da nossa civilização. Serão como cartões postais da Terra ou mensagens numa garrafa lançada ao mar.


B) Assista Glenn Gould em http://www.youtube.com/watch?v=g7LWANJFHEs

C) Sobre o livro de Glenn Gould:
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=330564&sid=155201113785336309446218&k5=12919679&uid=

D) Sobre o disco da NASA: http://olhosdamonalisa.blogspot.com/2011/01/o-disco-de-ouro-da-voyager-2.html


E) Ouça a música que contém a citação do inicio do texto: This Charming Man - Morrissey (The Smiths)
http://www.youtube.com/watch?v=p4vV3w1jLVk