Growing up!

Aqui você encontrará meus delirios socráticos, minhas opiniões sobre assuntos diversos e obvio, um pouco da minha percepção de mundo. Tiago de Souza

quinta-feira, julho 24, 2008

Estive pensando sobre isso a algumas semanas atrás. Fui num workshow do batera Aquiles Priester no dia 12 de Julho (data muito especial pra mim por um fato do tempo pretérito...). No inicio do evento, o representante da galera que trouxe o cara até o RJ (o Aquiles é paulista) disse o seguinte:
- Pessoal, pode tirar foto a vontade, só não filmem nem tirem foto de pé, pra não atrapalhar quem está atrás, ok?

As cortinas subiram...
TcharaAAAMMMM!!!!

O cara aparece. Sobe na bateria. Dispara a música. As baquetas começam a golpear os tambores.

Flash! Flash! Flash! Vush! Vush! Shuinnn... Shuinn.. Flash! Flash! Vush! Vush!
A musica começa.
Flash! Flash! Flash! Vush! Vush! Shuinnn... Shuinn.. Flash! Flash! Vush! Vush!


Confesso que eu também tinha levado a minha câmera. Mas assim q tirei a primeira foto, congelei.

Eu não sou o maior fã do cara. Sinceramente, ele toca demais, é extremamente tecnico, super profissional e muito carismático (vide a horda de fãs que o acompanha pra cima e pra baixo) mas como diria o Rudds, brotherzasso e vocal da banda Sebastian: "Ele não me emocionou".
Minha época de "metaaaalll!!!!" acabou faz pouco tempo. Estou buscando outras coisas além de bumbos rápidos e afins. Mas isso não tira o mérito do cara! Muito bom o Workshow.
Mas, assim q o primeiro flash da minha câmera se desfez como um sopro diáfano no ar, eu pensei comigo mesmo:
- Merda! Eu estou aqui pra apreciar ou pra ficar tirando fotos estúpidas pra colocar no orkut?
Parei de tirar fotos ali mesmo.
Eu tinha pago 30 pratas pra ver o cara, com direito a certificado e tudo e ao invés de curtir o lance estava perdendo a sensação de estar ali pra ficar tirando fotos? Na ultima música, o cara chamou todo mundo que estava com camisas da sua banda para subir no palco e vê-lo de perto tocar. Ao invés de apreciar o cara em ação o que meu socnterrâneos fizeram??

Flash! Flash! Flash! Vush! Vush! Shuinnn... Shuinn.. Flash! Flash! Vush! Vush!

Isso pode ser estendido a inumeras situações: A micareta rolando e as pessoas tirando fotos com os "ídolos" a metros de distância atrás. Ao invés de curtir a vista, ficam tirando fotos das paisagens ao redor, sejam elas o Cristo Redentor ou uma cachoeira em Tinguá. Até na igreja, ao inv´-es de nos "ligarmos a Deus" as Sonys e Panasonics imperam. A festa bombando e o grupo de amigos se junta (com uma música turbinada rolando atrás) e começa a sessão "Diga XIIISSSS". FLAAAASHHHH E depois a frase:

-Deixa eu ver! Deixa eu ver!

Já escrevi sobre isso a muito tempo atrás. É só procurar nos textos antigos desse blog (alguém ainda lê isso aqui?!?!). O conceito de "foto" vem da caça, é só assistir o filme "Retratos de uma obsessão" com o Robin Williams pra você entender. Mas o caçador ao abater a presa sente algo indescritivel. A sensação da superação, da vitória, do ego se inflando, o sorriso safado crescendo nos lábios... Parece que perdemos isso. As poses forçadas, os "diga-xis", o sinal de positivo com as mãos (ARGHHHH), tudo isso mostra como perdemos aquilo que nos separa dos animais: o fato de sabermos que estamos vivenciando uma experiencia e podermos aproveitar isso. Imagine que seu cantor preferido está na cidade. Você tem a oportunidade de ir ao show. No meio do espetáculo ele olha em sua direção e aponta pra você. Ele continua a cantar (digamos que seja o Phil Collins apontando pra mim e cantando: Invisible Touch!!!). Aquilo dura, como diria Einstein em relação a plasticidade do Tempo, uma eternidade. O tempo necessário pra você pensar: Cadê o Valdinélson com a câmera? Tira a foto! Tira! Tira!

Viu? É isso!
Não quero dizer que não tenhamos de tirar fotos. É claro que é bom eternizarmos momentos que poderiam ser esquecidos com o tempo. Mas nenhuma foto num arquivo substitui a sensação de ter aproveitado algo em toda a sua plenitude.
Sabe porque temos tanta saudade da infância e da adolescencia? Por que não temos muita coisa como apoio para nos lembrarmos dela com clareza. Por que queremos que ela esteja em nossa frente mas não podemos ter isso. Sempre falta uma foto, uma gravação, uma carta, uma lembrança de uma travessura, um presente proibido... Por isso estas coisas são tão importantes pra nós. Porque elas se foram. E não temos como eternizá-las. A não ser nessa maquina fotografica complexa que temos em nossa cabeça.
E ela é ligada quando olhamos de forma atravessada pro nada e suspiramos.
Citando Roland Orzabal na música "Head over Heels":

"Time Fly"...


Flash! Flash! Flash! Vush! Vush! Shuinnn... Shuinn.. Flash! Flash! Vush! Vush!
Flash! Flash! Flash! Vush! Vush! Shuinnn... Shuinn.. Flash! Flash! Vush! Vush!


Desliga esse troço.