Growing up!

Aqui você encontrará meus delirios socráticos, minhas opiniões sobre assuntos diversos e obvio, um pouco da minha percepção de mundo. Tiago de Souza

sexta-feira, novembro 28, 2008

"Quem canta sua banda espanta!"


Estava pensando em como certas coisas no mundo da musica são estranhas.
Um exemplo disso é a visão que temos de bateristas e vocalistas.


Os bateristas no meio musical são tachados de "ogros", de "corações de pedra", e nessas categorias os unicos que se aproximam deles são os baixistas. Além disso são alvos de piadas grosseiras por parte dos outros músicos. O exemplo mais clássico é a piada que já foi reproduzida por gente como Jô Soares:
- Sabe como vc sabe quem é o baterista numa banda?
- Nããããããããaoooooooo!!!!!!!!!
- É o cara que anda com os músicos.
- huahuahuahua KKKKKKK rsrsrsrsrsrs jhgiygdydgyiwdqwwqdiu ;) :´´)

Pois é. Entretanto, os bateristas são a chave para vcs saber se determinando grupo é bom ou lixo. Se vc ouvir o quarteto de Miles Davis, percebe logo de cara que quem movimentava tudo era o genial Tony Willians. Enquanto Miles explorava os espaços nas musicas com pausas longas e com um som encorpado (fugindo dos "trinados" dos trompetistas da época) Willians sentava a pancada no seu kit, fazendo coisas que até hoje formam a base de todo o estudo da bateria moderna: as conduções rápidas e sincopadas, seus fat flams, sua ferocidade ao tocar era o motor da banda. Outro exemplo era Keith Moon do The who. Para os jovens músicos de hoje, Mike Portnoy do Dream Theater é o maior exemplo de baterista "showman": levanta do banco, gira baquetas, cospe, mostra a lingua, usa kits gigantescos e malucos... mas Moon já fazia isso nos anos 60, a ponto de as estantes de bateria terem que ser reforçadas daí em diante por causa dele e de seus tecnicos pregarem seu bumbo no chão devido a violencia que seus pés "chutavam" os pedais. Moon era a alma da banda, a ponto de sua maluquice ser a coisa que colocam "ordem" na banda. Se um desconhecido baterista com um jeitão de robô chamado Neil Peart não tivesse entrado no Rush , provavelmente eles seriam uma banda obscura de progressivo.

É regra que se uma banda ruim tiver um bom baterista, ela melhora, mas se uma banda boa tiver um baterista ruim, ela está fadada ao fracasso. Atualmente, temos grandes bateristas como Thomas Lang, Virgil Donati, Kiko Freitas, Bill Stewart e inumeros outros que utilizam conceitos complexos na sua abordagem do instrumento. Coisas que somente com muito estudo e aprofundamento reflexivo se poderia tocar. Me dá nervoso quando guitarristas, baixistas e tecladista começam a falar sobre Escala mixolidia, bends, pull offs, modo lócrio, notas de tensão, sétima maior com quinta aumentada... eles se acham doutores quando na maior parte das vezes fecham os olhos e tocam o que vem a mente. Da mesma forma os bateristas também tem seus termos estranhos: polirritmicos, german grip, ratamacues, dartanhãs, ostinatos, displacement... mas ao contrário dos outros da banda eles não podem falar sobre isso com ninguém.

Mas por quê estou escrevendo isso?

Por que meu alvo hoje são os vocalistas.

Já notaram como os vocalistas tem o poder de acabar com qualquer banda? os vocalistas ao meu ver são as peças mais perigosas que compõem um grupo.
Não posso deixar de apontar que o ego dos guitarristas também é um problema, mas existem guitarristas em qualquer esquina.
Mas não bons vocalistas.

Admito que os sujeitos mais complicados de se lidar são os tecladistas. Sempre cheios de ressalvas e com suas idéias de que "se eu for embora a banda acaba". Mas uma banda se sustenta só com o famoso quarteto "Baixo+guitarra+voz+bateria". Ou então, dá um teclado na mão do vocalista que resolve.

Mas uma banda tem q ter muuuuuuuuuita sorte de estourar sem um vocalista.

Eu poderia colocar no final dessa ultima frase as palavras "vocalista decente" mas até mesmo um suposto "mal vocalista" tem seu valor. Veja por exemplo Herbert Vianna, David Bowie, Belo, João Gilberto, Cobain. Até o Renato Russo tinha seu valor, mesmo enquanto as pessoas achavam que ele cantava, mas na realidade estava declamando poesias com um fundo de musica por trás (perdoe o trocadilho). Vocalista ruim passa para a posteridade como alguém que tem um estilo. Ele canta mal, mas canta mal "do jeito que só ele pode fazer".
Se uma banda estoura dificilmente os outros integrantes (entre eles o baterista) recebe os mesmos mimos que o vocalista. Veja por exemplo o Coldplay: Diga sem pensar o nome do baixista do Coldplay.
Tic
Tac
Tic
Tac

Me diz o nome do tecladista do Los Hermanos.
?
?
?
?

Viu?
Viu?

Você pode dizer que os vocalistas como porta vozes da banda estão no centro do holofotes. Eu sei... Eu sei... mas pense bem: quantos vocalistas você conhece que assim que a banda estoura arrumam um jeito de se "libertar"? Veja por exemplo Tony Garrido: acabou de sair do Cidade Negra e já está em vôo solo. Qual o tema do show? Liberdade.
Assim como ele, Sting saiu do Police por que se sentia limitado. Tudo bem que o ambiente no Police devia ser um inferno (muito disso devido a personalidade dos três integrantes que eram muito diferentes... ).
Poderia escrever mais exemplos (alguns até toscos): Belo e Soweto; Alexandre Pires e SPC; Claudia Leite e babado novo; Arnaldo antunes e Nando Reis e os titãs; Ivete sangalo; Oficina G3 e PG; Jorn Lande e as inumeras bandas que ele já enrou e saiu; Rodolfo e os Raimundos; RPM e Paulo Ricardo; Neal Morse e Spock Beards; Marillion e Fish; Angra, Shaaman e André Mattos, Nigthwish e Tarja, Iron Maiden e Bruce; John Lennon... e por ai vai. Não me importa se você possa apontar os motivos e não concordar com ess lista, mas o que acontece é que os vocalistas sempre arrumam uma maneira de sair e na maioria das vezes quem se ferra é a banda.
Mas um exemplo comovente é o do Genesis.

Genesis é um exemplo (se não o maior exemplo) de uma banda que teve uma mudança de sonoridade drástica devido a uma traumática saida de vocalista. Peter Gabriel era um vocalista respeitado nos idos de 1970. Suas performances eram fantásticas. O cara além de ter um timbre fantástico e de ser um letrista de mão cheia, deixava a platéia hipnotizada pelos personagens que encarnava em suas apresentações. Com o tempo, ele passou a se sentir incomodado com sua "falta de liberdade". Gabriel ofuscava com o seu talento os outros musicos, a ponto de as reportagens sobre o grupo só falarem dele. E nem sempre se referindo a música.
"Gabriel OUT Genesis!". Os integrantes receberam a noticia e começava um pesadelo enfrentado por inúmeras bandas. Quem pode substituir ele?

E o mais engraçado é que o substituto foi justamente ele. O baterista. E com ele a banda atingiu mercados e $$$$ que com Gabriel nunca iriam sonhar em chegar.


Existem três regras no mundo da música e que foram enumeradas por Jack Black num filme. Algumas regras são facilmente descartaveis, mas uma delas.... é impactante:
1- Nunca namore integrantes da sua banda
2- Nunca grave discos conceituais (ou seja, discos com um tema só)
e o terceiro:
NUNCA, NUNCA DEIXE O BATERISTA CANTAR.

Viram?
Os bateristas são como aqueles caras de filmes épicos que nas ultimas cenas revelam que são herdeiros do trono. Como em o Senhor do anéis.

Por isso, pense bem antes de olhar atravessado para um baterista.

E seja amigo do vocalista.
Quem sabe ele te chama pra tocar pra ele quando sair em carreira solo.


(e o engraçado é que o Collins tocou em discos solos do Gabriel... ele é ou não é um gênio? rsrsrs)