Growing up!

Aqui você encontrará meus delirios socráticos, minhas opiniões sobre assuntos diversos e obvio, um pouco da minha percepção de mundo. Tiago de Souza

sexta-feira, setembro 20, 2013

Mnemônico.



Era do tipo que esquecia muito facilmente das coisas. Mente rápida. E como tudo o que é rápido, nem sempre via tudo com clareza. Pensamentos iam, vinham, nem sempre percebidos. Mas sabia disso e se acostumara. Afinal, somos o que somos. Por outro lado, quando cismava com uma ideia, era difícil de fazê-lo se aquietar. Travava um verdadeiro duelo até conseguir realizar o que queria e confirmar o que postulava. Competia até com as ideias de sua própria cabeça. Fazia parte da sua natureza, afinal, somos o que somos. Naquele fim de noite, a decisão de entrar naquele lugar não foi tomada - foi apenas sentida e antes que o gosto pudesse inebriar a mente, ela foi feita. Quase automática. Um reflexo de alguma vontade que borbulhou lá no fundo e que viu a luz, quase amarelada da fachada do prédio antigo com piso creme que seus sapatos (quase barulhentos) pisaram. Não tinha nada específico em mente, afinal, não era de se apegar a quase nada, a não ser quando cismava com alguma coisa, o que nem sempre acontecia.  Os olhos passearam sem enxergar as prateleiras a sua direita, ignorando o lado esquerdo que equilibrava o lugar (ele, quando entrava no metrô, num trem ou em um ônibus, também ia, inconscientemente, para esse lado) só que o pensamento em parênteses, de tão rápido mal se completou - se esfarinhou ante a visão de uma pequena aglomeração e vislumbrou um homem sentado numa almofada (qual cor?), rodeado de pessoas que lembravam uma espécie de procissão. Algo estava sendo exposto numa pequena pirâmide feita de caixinhas (DVDs?). Ele sabia que estavam vazias. Tempos de desconfiança. Eram belas as caixas? Ignorou, porque afinal, não queria saber. Subiu as escadas com o objetivo de apenas passear pelo lugar, sem maiores objetivos nem compras. Economizava muito e as vezes se esquecia de quanto tinha ou do porquê estava trocando uma boa refeição por um lanche rápido. Estou magro... Ele pensou e imediatamente se lembrou.
Lembrou que realmente precisava de algo, mas de tanto procrastinar, deixava sempre a compra para um momento que nunca chegava. Ele economizava muito. Aquilo fora idealizado uma meia página de vezes, mas nunca concluído. Mundo das ideias. Seria Platão? Não sabia por que se lembrou disso nem aonde lera. Se é que leu, pois não era muito chegado em leituras. Pelo menos não tanto quanto deveria. Usava óculos, o que lhe dava gratuitamente um ar intelectual, mas não aquele intelectual enterrado em livros herméticos, mas aquele tipo alinhado, elegante, mas um tanto raso em suas reflexões. Enfim. Subiu as escadas, ignorou a musak que invadia o ambiente, o som de um trompete ensurdinado e lânguido legato que  espalhavam pelo mar-ar invisível (Tanto poderiam conquistar o ouvinte quanto fazê-lo dormir).  Pessoas comiam em cadeiras de assento reto e pernas curvas. Tenho fome, ele pensou e foi em direção a estante com o tal volume. Lembrou-se de que vinha pouco naquele lugar e relembrou peri passu com uma certa pontada de criancice que uma vez –não, pelo menos duas - tinha escondido o que tinha ido buscar, voltando a nuca daquilo para a parede, evitando assim o encontro com olhares curiosos. Pessoas interessadas precisariam de um mapa para encontrá-lo naquela ilha de escrituras (rodeada de trompetes em legato). Mas ele, o volume, sempre voltava à posição inicial dias depois. Algum funcionário da loja, quem sabe, ou alguém com TOC. Mas no fim, ele sempre acabava se esquecendo de voltar e comprar.  Sorriu com a peraltice. Estava na escada rolante, rumo ao fim de toda aquela (essa) história, mas a uma meia rodada de degraus rolantes do local, teve uma pequena premonição.  E se alguém tivesse levado o volume?
, em notas
O tal não era um best-seller, mas da ultima vez, apenas um único exemplar sobrevivia na loja. Não gostava de comprar nada pela internet, preferia a caça ao vivo, in loco. Os degraus se recolheram e ele pisou quase silenciosamente no piso revestido de um tapete cinza e viu a estante esquerdizada. Duas pessoas estavam folheando volumes. Aproximou-se, com o olhar levemente deslocado para a esquerda (obviamente o que lhe interessava estava desse lado), como se só um lado da cabeça enxergasse o que o resto do corpo viera reclamar como seu. Seus passos se apressaram levemente em quiálteras, mas seu corpo refletindo um compasso simples, e a respiração aos poucos correspondeu a essa descombinada divisão. Se bem que ele não respirava mais. Tinha se prendido ao momento. O livro não estava lá.
Uma senhorinha, com cabelos grisalhos, mas levemente pintados num tom quase roxo, quase azul, de vestido desamarrotado, de listras verdes, estava com ele, o “tal” em mãos.
Seus olhos se esbugalharam, mas manteve o controle. A respiração automaticamente se refez, mas agora uma pequena veia latejava do lado direito da sua fronte. Pensou em falar com a senhorinha, dizer que aquilo era seu, mas era burrice. Pensou em... Não. Não pensou em mais nada, a não ser na única hipótese possível. Esperar. Pegou outro livro e nervosamente começou a folheá-lo em busca de um texto-trecho que não faria a menor importância quando fosse lido. A senhorinha continuava com o códice em mãos. Virava suas páginas como se elas pesassem um quilo, e mantinha sonolentamente abertos aqueles olhos que só funcionavam em altos níveis de claridade desde a década de 50. Idiota. Idiota. Ele pensava. Como foi deixar isso acontecer? Nas estantes não havia mais nenhum exemplar daquele. A senhorinha pegara o último. Idiota. Ele pensava. A senhorinha finalmente terminara a leitura an passant, mas permanecia com o livro em mão, agora vasculhando as retas linhas em busca de algum outro artigo. Ele já não se aguentava em nervosismo. Não queria mais seguir com aquele teatro que já durava em contagem einsteniana uns dois anos, mas em contagem suficiente calma deveria ter durado dois minutos, até aquele momento. Momento em que a senhorinha levantou o livro e colocou-o de volta na estante. Pelo menos foi isso que ele afirmou a sim mesmo ter visto. Só que o milagre durou menos de um segundo. Enquanto ele virou o pescoço a direita, seguido pelos seus quadris que dirigiriam seu navio corporal numa velocidade de dois passos por segundo rumo ao lugar desejado, a senhorinha re-pegou o volume e colocou-o em baixo do braço. Decidida. Ele prendeu a respiração novamente e soltou um leve gemido interno. Ao fazer isso (a senhorinha) ele notou no dedo anelar esquerdo da senhorinha um pequeno anel com uma pedra em forma de ovo, cinza, mas cujas moléculas estavam tão envelhecidas que quase deixaram de produzir aquela cor. Um palavrão foi pensado e abafado para ressurgir mais duas vezes, como se regurgitado entre suas orelhas, enquanto a balzaquiana continuava com o tal embaixo do braço. A essa altura já com o cheiro corporal dela transmitido. Vou falar com ela, perguntar se ela realmente vai comprá-lo, quem sabe mentir, contar uma história meio ridícula, meio séria. De repente ela me entrega o volume, afinal, não posso tomá-lo a força. Se bem que...
“Boa noite. Posso ajudá-lo senhor?”
A pergunta, feita por uma jovenzinha teve o impacto de uma avalanche, pois cortara rapidamente seu raciocínio maligno e o desconcertou. Num reflexo ele disse “boa noite” num tom quase inaudível. “Quer ajuda senhor?”. Eh... estou só de passagem, não vou comprar na... Nesse momento ele percebe que a senhorinha sumiu. Com licença, ele disse, e sem perceber empurrou a jovenzinha de blusa branca e crachá quase quadrado, estampando uma foto que odiava, pois tinha sido tirada num dia infeliz. Ele olhou a estante e notou com pesar que o item já não estava mais lá. A senhorinha tinha levado. Ele passou a mão, inconscientemente pela borda da estante, como se num ultimo toque e respirou pesadamente. Parou por um segundo inteiro como se abandonado. Olhou para a jovenzinha e reparou no tom azulado, quase cinza dos seus olhos. Aonde tinha visto esse tom antes? Cabelos cortados com uma franja que quase encostava nos olhos. A jovenzinha que sem entender o que se passava disse em tom crescente: O senhor está sabendo? Um autor está assinando seus livros ali embaixo. A sessão iria acontecer a pelo menos 4 meses, mas ele estava fora do país. Só voltou agora. Todos os livros dele que estavam aqui foram comprados e os que sobraram estão num estande ali embaixo. A senhorinha que estava aqui estava com um deles, mas nenhum ficou aqui hoje. Todos estavam lá embaixo. Quem sabe se o senhor descer ainda encontra... Ele interrompeu-a sem pedir licença. Estou só de passagem, não vou comprar nada, mas obrigado pela informação. Devolveu o livro a estante, olhou novamente seus olhos, num piscar de olhos, olhou pro lado direito (o mesmo que ele olhava quando entrava em ônibus, trens e metrôs), decorou o nome da jovenzinha (que estava no crachá e que seria repetido por ele para ela um dia depois numa visita que ele sabia que faria) e rumou para a escada.  Afinal, era do tipo que esquecia muito facilmente das coisas. Mente rápida. Por outro lado, quando cismava com uma ideia, era difícil de fazê-lo se aquietar.


sexta-feira, setembro 13, 2013

"Adiene" ou "Eneida".



  

Eu e Tiago tomamos à força os territórios entre Piam e Gibraltar apenas oferecendo à Alexandre o corpo de um jovem esbelto morador de Queimados. Pra quem é de Queimados e quer saber o nome do indivíduo que forneceu seu "Auxílio" nessa empreitada, aí vai: o nome do sujeito é Hefestião. Guilherme ficou mt puto com essa história. Lançou ao Reichstag uma dura política contra a duma pianense. Jorge, na Inglaterra, nada disse. Nicolau escrevera em russo, com caracteres cirílicos: "fudeu!". O resultado disso é que mais gente fora queimada de 1937 a 1945.Enquanto isso, no III Reich, Goebbels e Adolf decidem se anexam ou não o condado de Queimados. O argumento é que as tropas de Nova Iguaçu se valem de artefatos químicos para perpetrar o medo em sua população. É, amigos... nem sempre o clima de paz reinou na cidade-Estado de Belford Roxo. Há séculos o povo de PIAM trava uma batalha épica de proporções bíblicas com seu vizinho Gogoêmia. Milhares já sucumbiram ao holocausto e ao horror de tal entrave. Famílias dilaceradas e destruídas pelo ódio dos governantes de tais províncias. A sede de ganância urge aos poros de quem não tem compaixão pelo povo cortez de tais províncias. Até que uma intervenção Nipo-caoiabense foi decretada em Piam.  A general Hatayama impôs, através da força, novos rumos para tal povoado e a história fez-se diante dos olhos esticados de tal déspota. Porém, forças malignas conspiraram por baixo dos panos e, sob o calor do ódio, fundaram uma nova província para poderem ter plenos poderes para continuar a guerra e a batizaram de Nova Piam. Mas isso é outro capítulo. A jovem República de Iguaçu, ainda que enfrentasse movimento separatista mesquitense, aliava-se ao reino de Nilo. A produção de artefatos químicos vinha, na verdade responder a produção dos mesmos pela gigante alemã Bayer, no reino Piam-roxense, clara tentativa de colisão com os alemães em Queimados. A questão foi levada a Haia. Os visigodos, cercados pelos bretões em Mesquita, malandramente conquistaram o apoio dos líderes do movimento separatista liderados pelo Marechal Deodoro da Fonseca Paixão. Com isso, eclodiu-se um clima de dispersão dos soldados iguaçuanos (aliados aos bretões) e eles, deixaram livres a província da Chatuba, que foi usada como moeda de troca pelo o general McArthur (anglo-americano-saxão) para liberar os Visigodos e deixar o movimento separatista assumir o povo de Mesquita, que se tornou cidade-estado e ganhou a razão social de Pueblo Del Choclo de Mesquita. Marechal Paixão que retirou o antigo sobrenome Saxe-Coburgo-Gotha, que explicitava sua raiz iguaçuana. As diferenças começaram a não mais ser resolvidas no Tribunal de Haia, por oposição de Edson Celulari. O SESC passou a ser o palco mediador das diferenças. Havia ainda a esquadra de dreadnaughts caxiense subindo o rio Pavuna pra lançar seu massacre final à Praça da Matriz.
Pausa na história, pois chegou fevereiro e tudo pára no Carnaval.
Nilopolitanos enriquecem. Visigodos se embrenham em Gericinó, cariocas assistem pasmos, alexandrinos homossexualizam-se, pianenses tocam bateria, nipo-caioabenses brigam com os piamenses, iguaçuanos permeiam-se e tudo termina na quarta-feira. Nos fim de semana ocorrem ainda visitas dos seropédicianos. Rasputin depravadamente entra na quadra da Beija-Flor, deposita suas coisas numa alegoria e grita "Chupa neguinho!". Moradores dos Bálcãs assistem horrorizados as farras de pizza da aristocracia iguaçuana. Winston Churchill fuma uma caixa de Derby.
Chove.


14 de setembro de 2013. 11:30. Base aérea do Galeão.
O Tupolev de Mikhail Gorbachev pousa sem maiores sobressaltos na pista 15R do aeroporto. Ao desembarcar, o chefe do PGI - Partido Gastronômico Iguaçuano, senador Erick Amaralovski o espera com uma AK-47 no ombro e um prato de torresmo nas mãos. Mikhail degusta a iguaria. Se dirigem ao Lada branco que os aguardava na cabeceira da pista. O motorista faz uma reverência e os leva ao QG do partido, no Bairro da Luz em Nova Iguaçu. Ao chegar, um churrasco os espera. O tesoureiro Tiago de Souzsky o cumprimenta. Todos comem. Mikhail enaltece a comida. A missionária Clarissa Amorinov relata seus dias de terror nos porões da Universidade Rural. Os mascotes Bombomsky, Miniov e Magrelev adentram ao recinto. Os portões se abrem. Um picanto preto dirigido por Fidel Castro adentra ao Quartel. Todos bebem. O telefone toca. Eu atendo. A voz inconfundível de Boris Yeltsin ecoa em meus ouvidos. Ele está puto. Pede pra falar com Mikhail. Chamo Mikhail. Ouço pelo telefone Boris gritando: "Porque não me chamou pra esse cachaçal, seu grande filho da puta?".
Sorrio.

Das cronicas "Ramonovskas Erickenhas".

sexta-feira, setembro 06, 2013

Hã?!?! ZZZZZZZZZZZZZZZZZZ



Alguns dias atrás passei por uma experiência muito doida...  Sabe quando você acorda de madrugada “do nada”, fica desperto alguns segundos e depois volta a dormir?
Pois é. Aconteceu comigo, mas de uma maneira diferente.
Geralmente leio antes de dormir, isso lá pelas duas da manhã. As vezes quase três. E lembro que nesse dia não li nada de assustador, nem vi filme de terror, nem comi nada “pesado” nem estava preocupado com algum compromisso a ser cumprido. Estava relax.  E óbvio que não uso drogas nem substancias que buscam alterar minha percepção. A não ser que Toddy se enquadre nessa categoria e eu não to sabendo. Só sei que de madrugada (quase manhã, devido o horário), acordei sobressaltado e com um pensamento martelando minha cabeça:

Eu vou “viver” eternamente.

Tá bom... tá bom... é meio idiota... Eu sei... Mas nunca tive uma sensação tão "ruim" quanto a que tive naquele momento. A situação não chegou a durar meio minuto, mas tive uma sensação de agonia incrível. Não sei se “agonia” é a palavra certa... Acho que seria “angústia”. Sim! Angústia...  Lembrei de Kierkeegard... mas foi uma angústia diferente. Angústia por pensar que daqui a dez milhões de anos, eu ainda vou estar consciente. Ai fica a pergunta: será que eu realmente quero isso?  Na hora, senti um calafrio que não consigo explicar agora, a sensação foi indescritível. Nunca tinha passado por isso dessa forma, embora, esse tipo de pensamento bizarro não fosse novidade pra mim (quer saber mais? Leia http://migre.me/fYgNR), e repare que geralmente isso acontece antes de dormir.
Vou tentar explicar o que pensei na hora e as implicações desses questionamentos.
Se formos simplificar, sem frescuras, existem apenas duas hipóteses com relação a vida “pós-vida” (ê coisa complicada...): uma é que nossa consciência permanece mesmo após a morte do corpo, ou seja, “viveremos eternamente”; a outra, é que nossa consciência é aniquilada. Fim. Zás. Cabô. Cataploft. É o famoso “empirulitar-se desse mundo”, numa definição “Mussum” (a citação vem desse vídeo, mais precisamente aos 0:25 segs. [http://migre.me/fYgTx]). Tanto uma quanto outra se analisadas friamente são absolutamente... desesperadoras.
A muito tempo atrás, não me lembro mais onde, li que o cérebro humano tem dificuldade em analisar determinados conceitos filosóficos e a eternidade é um deles. Nosso cérebro não foi feito para racionalizar a imortalidade, pois não consegue formular uma linha de continuidade definida para ela e pra tudo o que pensamos, precisamos de “início-meio-fim”. Spinoza, um dos grandes filósofos do século XVII escreveu que temos uma parcela de “Deus” em nós, mas mesmo assim, nunca conseguiremos chegar a um pensamento abastado sobre determinadas questões. Elas nos são impossíveis, pois temos “Deus” em nós, mas, lembrando Platão, nós imperfeitos, não poderemos nunca chegar a domínios perfeitos de consciência. Traduzindo esse blá blá blá, nós precisamos sempre de um ponto de partida e de chegada definido. Um eterno “devir” não satisfaz nossa reflexão. E pensar que daqui a um milhão de anos, você continuará você... É meio estranho. Os cristãos (patota que eu me incluo) às vezes não sabem o que realmente querem com esse papo de “vou morar no céu”. Todo mundo conhece os pensamentos cristãos sobre eternidade, que iremos para um lugar melhor, aonde não haverá morte nem dor e por ai vai. Mas... O que faremos lá? Cantaremos eternamente? Trabalharemos? Voaremos de um lado para o outro? Durante quanto tempo? Estaremos com Deus, mas... Teremos objetivos de vida? Afinal, como será a vida nessa nova realidade? Não acho heresia pensar sobre essas coisas, mas acho extremamente confuso definir o que faremos do outro lado, assim como não consigo entender a viajada que os teólogos embarcam na busca por compreender o livro de Apocalipse (mas isso é outra história, que um dia, quem sabe, eu conto). Por isso, “fecho” com o bonde do Tertuliano (160-220 D.C.), um dos grandes teólogos da igreja que defendia o “credo quia absurdum” (creio por que é absurdo). Acho que dizer que não se consegue refletir sobre algo com clareza também é usar de consciência e razão e eu sou um dos que prefiro esperar e ver o que vai acontecer no Paraíso. Mas, confesso que a ideia de que minha consciência NUNCA vai se apagar me dá calafrios. Eu nunca vou apagar. Sempre vou estar aqui. Eternamente. Viverei de novo. E de novo. E de novo. Pra sempre. De novo. E de novo. Pra sempre. Eterno. E de novo. E de novo.

Agora, vamos pra outra parte desse pensamento. Sabe quando você tem aquele sono sem sonhos? Quando você literalmente “apaga” e acorda no dia seguinte? É exatamente isso que vai acontecer quando você morrer, segundo alguns. Numa conversa, um amigo meu, ateu ferrenho e proselitista, me disse que morrer é como “estar em coma num hospital que desaba”, ou seja, nunca sairemos e nem saberemos o que nos matou. Essa hipótese também me dá calafrios, porque imagina só! Morreu... Acabou. Não terei lembranças, não lembrarei de nada, não terei consciência. Alguns dizem: mas você só tem consciência a partir do momento que nasce... Cristopher Hitchens (aquele que amava a Madre Tereza... hehe) pergunta em seu livro Deus não é grande: onde estava sua consciência quando os dinossauros foram extintos? Se você não estava lá, e pode perfeitamente não estar quando o ser humano chegar em Marte. O Richard Dawkins inicia seu livro Deus: um delírio com a seguinte frase “Não é o bastante saber que o jardim é bonito sem ter que acreditar que te fadas nele?”, ou seja, pra ele viver e buscar fazer isso da melhor forma possível é melhor do que ficar divagando sobe o lado “Ghost” da vida. Logo, como nossa percepção de mundo vem das ligações neurais, sinapses, pulsos elétricos somados ao pleno funcionamento de nossos sentidos e nossa capacidade de raciocínio, quando a energia acabar, nossa consciência também se esvairá e pronto, como na ultima frase do androide no filme Blade Runner, “todos esses momentos se perderão como lágrimas na chuva”. (Assista! Assista! Assista! http://migre.me/fYile)

Depois disso tudo, volto ao inicio do texto, que já tá grandão e precisa terminar.
Acordei sobressaltado e pensei: eu não quero “apagar” para sempre... quero viver... Mas... a ideia de eternidade me esmagou, pois sei aonde eu quero estar quando os dias eternos chegarem, mas também sei aonde não quero chegar e tenho medo de que meu destino seja estar perdido pra sempre. Se estou falando de inferno? Pode ser... Mas creio que estou me referindo a um inferno diferente. Orígenes e o teólogo Gregório de Nissa achavam que o inferno era um lugar de separação de Deus — de sofrimento espiritual. Santo Agostinho achava que Inferno era sofrimento tanto físico quanto espiritual. Uma vez, não me lembro quem nem onde, me disseram que o inferno era um lugar de solidão, de separação, tanto de “Deus” quanto das pessoas que amamos. Não sei se Deus pode realmente “não estar” em um lugar, por isso, me abstenho de estender meu pensamento sobre a questão. Mas realmente, estar separado das pessoas que amamos é um Inferno mais feroz do que qualquer fogo que nunca se apaga.

Todas essas questões desabaram na minha cabeça como um paredão de água que durou alguns segundos mas que foram suficientes pra me angustiar.
Mas os seres humanos são troços tão toscos que depois disso tudo...

...Voltei a dormir.