Growing up!

Aqui você encontrará meus delirios socráticos, minhas opiniões sobre assuntos diversos e obvio, um pouco da minha percepção de mundo. Tiago de Souza

sábado, março 27, 2010

Jesus Jazzy. Parte 1.

O texto está incompleto... ainda vou reescrever algumas coisas e adicionar inumeras outras... rsrs
Tenham paciencia. Estou com pouca ultimamente.
Abraço aos raros leitores!

T.


Bom, geralmente não penso muito no que vou escrever aqui.
Na maior parte das vezes eu simplesmente chego e escrevo sobre algo que está me incomodando. É o que eu penso sobre as artes: se não me incomoda, não dou crédito. Mesmo que seja um incomodo simples, mas a arte tem que me deixar desconcertado e nunca incólume. É o que eu acho porr exemplo do Roupa Nova. A música feita por eles pra mim nunca fedeu nem cheirou, mas quando eu começei a prestar atenção nas produção, nos timbres, na musicalidade do Sergio Herval, nos vocais "certeiros" e quando eu ouvi abraçado com a minha japa no onibus num sábado a noite chuvoso, depois de um bom filme e uma visita ao Burguer King e com o ingresso do show do A-ha no bolso, aquilo pra mim pareceu a melhor musica do mundo.
Mas... enquanto as vezes eu simplesmente sento e escrevo, outras vezes eu tenho umas "iluminações" que simplesmente me levam a refletir sobre algo, mas não necessariamente escrever sobre ele. O ultimo texto (o do Wilde) eu tive a iluminação no metrô e só depois de mais de um ano ela se materializou aqui no blog. E agora isso.
Pensei nisso indo pra casa depois do trampo ao passar pela padaria. Não lembro o que me fez pensar nisso, mas simplesmente pensei e na hora franzi as sobrancelhas naqueles momentos em que agente faz um "Hã?!?!". O pensamento foi esse: Jesus é o maior jazzista do mundo.
Como assim um "Jesus músico"?
Sei que parece meio absurdo e meio "forcação de barra gospel", na onda de "Jesus o maior psicologo que existiu", mas todas as caracteristicas de um bom músico estavam preenchidas na personalidade de Jesus. É sério!

Vou explicar. Ou pelo menos tentar.


1- O berço
Todo musico tem uma história de vida estranha. Musicos muito certinhos são um saco. Veja por exemplo, Chet Baker: tinha um dente da frente quebrado, um impencilho forte para que ele nunca encostasse a boca num trumpete, mas ele foi lá e fez. Art Blakey tocava piano num bar nos EUA e num momento de crise para se manter empregado, teve que tocar bateria. Se tornou uma lenda. Veja Joe Satriani: ele estava jogando bola quando recebeu a noticia que Jimmy Hendrix tinha morrido. Largou o futebol na hora e foi aprender a tocar guitarra em reverencia ao falecido. Veja Steve Vai: ele teve aulas com Joe Satriani. Decadas depois estava tocando com o mestre no palco. Chick Corea apanhava do pai nas aulas de piano, assim como Beethoven. Roland Orzabal e Curt Smith do Tears for Fears eram dois projetos de meliantes em Bath, Inglaterra no inicio dos anos 80. Os exemplos são muitos.
Nem preciso citar a turbulenta história do nascimento de Jesus. O parto feito num estábulo, ao lado de animais e onde cocô, insetos e comida fizeram papel de enfermeiros no seu nascimento. Muito menos falar sobre a fuga de seus pais para o Egito. Ah! esqueci de dizer que sua mãe deve ter sido alvo de fofocas maldosas durante um longo tempo, afinal... gravida antes de casar...


2- Iluminação
Todo musico, assim como todo profissional tem um momento inicial de iluminação, aquele momento em que ele diz: eu quero fazer isso. É um momento de definição. Não é um hobby, não é uma simples vontade: a pessoa traça aquilo para o resto de sua vida. É quase que uma escolha autoconsciente em pisar numa armadilha numa floresta. Ninguém escolhe ser cobrador de onibus, nenhuma criança diz que quer ser tabelião, um garoto na escola quer ser astronauta e não um fiscal, a menina quer ser modelo a não trabalhar como caixa num banco. Existem coisas na vida que são decididas em momento mágicos. O garoto vê alguem tocando, ou então ouve uma musica, vê um instrumento na vitrine e finalmente decide que aquilo é o que ele quer na vida. Raros os casos em que não é isso que acontece. São poucos os que não tem escolha, mas Jesus teve um momento de decisão, aonde ele poderia simplesmente ter dito: Não quero salvar o mundo. Ele teve um momento de iluminação. Um momento de certeza. Aonde? No seu bastimo.
O texto diz que ele foi ao encontro de João Batista. Ele tinha decidido. E ponto. João ainda indagou: "Eu preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim?!", disse que não era digno, perguntou se Jesus estava certo disso, deve ter piorado ainda mais a pregação daquele dia pra ver se espantava aquele carinha que estava olhando pra ele com aquele olhar penetrante, mas não teve jeito. Jesus era firme. " Eu Quero". E foi batizado. Ai foi o momento aonde ele decidiu ser "Jesus".

3- Tentação
Jesus foi tentado de três formas que nós músicos somos tentados a todo momento:
a) Jesus foi tentado a transformar pedras em pães, ou seja, ele foi tentado a usar sua "música" da forma mais simplista possivel.
Pense num musico que fica tentado a pegar uma musica ruim, ou um trabalho musical de má categoria e "tentar" fazer daquilo algo bom. Uma péssima cantora, um instrumental fraco e mesmo assim, para conseguir $$$$ olhar pra aquilo e dizer: muito bom... muito bom... As vezes é complicado num país aonde se tem fome e miséria dizer isso, mas os musicos ficam a esmolar enquanto os "canários" na frente do palco mal sabem que tom a musica está.
b) Jesus foi tentado a usar sua técnica somente para fins exibicionistas.
Jesus respeitava a "forma" da música. Ele sabia que sua "tecnica" era para fins puramente musicais e não para "demonstrar capacidade". Satã diz: Joga-te daqui de cima desse prédio que os anjos irão te segurar...". Essa situação é terrivel, pois as vezes o musico fica na duvida: "mostrar o que eu sei ou me segurar"? Musicalidade ou exibição técnica? Mal sabem eles que as duas coisas se complementam.
c) Jesus foi tentado a adorar um suposto contratante.
Quantas vezes vemos uma tremenda babação de ovo de uns para outros para conseguirmos entrar numa gig? As vezes você nem gosta do som do cara, mas você quer a exposição que um trabalho com ele te dará, ou então você acha o cara um chato, um musico mediocre, mas ele vai tocar no lugar tal.. seria interessante tocar lá... então... Vamos nos ajoelhar e adorar!

4- "Sai do meio da tua parentela..."
Jesus saiu do interior e foi para os grandes centro a procura de "trabalho".
Frank Gambale e Virgil Donati são australianos, Thomas Lang é austriaco, Marco Minnemann é alemão, Vinnie Colaiuta nasceu nos cafundós da Pensilvania, Sade nasceu na Nigéria, Kiko Freitas nasceu no Rio Grande do Sul, Miltom Nascimento em Minas Gerais. Todos esses musicos saíram de lugares aonde a perspectiva de trabalho era mínima e foram para locais de maior projeção: EUA, Rio de JAneiro, São Paulo... Assim como Jesus, que entendeu que o seu "som" era universal e por isso, necessitava de lugares mais amplos, publicos mais "quentes". Enfim. Precisava ganhar o mundo, pois ele tinha pouco tempo.

5- Jesus usava a tradição mas com uma roupagem moderna.
No mundo "nada se cria, tudo se copia". Na música a mesma coisa. Só vou dar um exemplo: Joshua Redman é um saxofonista norte americano, ele usa a linguagem do jazz antigo mas com timbres da modernidade- o som do seu saxofone tenor ( o mesmo tipo que John Coltrane usava) vem recheado de delays, reverbs, distorções e outros efeitos.
Jesus citava pedaços da Tanach (a bíblia hebraica) e certas idéias de rabis que vieram antes dele. Um exemplo é a famosa "Lei de Ouro": "Não faças aos outros aquilo que não gostarias que te fizessem a ti. Essa é toda a Torá, o resto é a comentário; agora ide e aprendei." Essa idéia originalmente era de um rabi chamado Hilel, o ancião, (no hebraico הלל ), mas Jesus a usou em um contexto totalmente novo, expondo a hipocrisia que as pessoas agregavam a essa frase. É só lembrar da parabola do samaritano. Logo, Jesus flexionava a antiguidade para que ela ficasse misturada a modernidade de suas idéias. Tudo o que Jesus disse e ensinou tinha uma tradição que veio antes dele. Ele seguiu a mesma linha de pensamento do baterista Elvin Jones: copiar, assimilar, inovar.

6- Jesus lia música e interpretava!
Certo dia Jesus foi a uma sinagoga e leu um trecho do livro de Isaías. Ele não somente reproduziu o que leu, mas deu sua propria dinamica interpretativa do texto. As pessoas liam aquela "musica" a decadas, mas ninguém conseguia entender o que o aquela "partitura" queria dizer com "Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperar a vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor". A musica estava lá, mas ninguém imprimia a abordagem "forte" que Jesus deu. Ela tinha crescendos e decrescendos que deixavam o ouvinte arrepiado e sem outra alternativa a não ser adorá-lo.

7- Jesus era rejeitado...
As pessoas ao redor de Jesus não acreditavam que dava pra "viver" de musica. Em Nazaré, lugar aonde ele foi criado, ficaram furiosas com suas palavras e até mesmo tentaram atirá-lo de um precipicio. Só que Jesus não queria viver de pregação. Ele simplesmente "ERA" a propria mensagem que ele estava pregando. Você não conseguia imaginar Jesus separado de seus milagres e seus ensinos. Quase como um musico que dorme abraçado com sua guitarra.

8- Jesus tocava sons que ninguém tinha coragem de tocar.
"Quebre o sábado", "Olhar já é pecar", "Abandone tudo e siga-me", "Pra trás de mim Satanás!!!". Essas eram melodias dissonantes demais para aquela época. Mas pra quem é visionario, o amanhã já chegou ontem.

9- Jesus era o maior improvisador de todos os tempos.

Continua nos proximos capítulos...