Growing up!

Aqui você encontrará meus delirios socráticos, minhas opiniões sobre assuntos diversos e obvio, um pouco da minha percepção de mundo. Tiago de Souza

terça-feira, agosto 26, 2008

IT



Ele observa a ponte. Seus passos se amolecem, mas ele continua a andar. Um carro passa. Longe. Enfim. Ele olha pro céu sem levantar muito a cabeça, está anoitecendo. Brrrr... frio... Ele se aproxima da ponte. A tinta já descascou a tempo dela. Se fosse pela manhã, bem cedo, ela até teria um certo grau de charme. Mas não tem. No máximo poderia dizer que ela é simpática. Nossa uma ponte simpática -pensa ele- devo estar doido. Realmente. Muito.


Ela passa sobre um rio. Um rio imundo. Não... não é mais um "rio". É um rio imundo. Definitivamente um valão. Não... valão é uma palavra muito forte. É um rio bastante poluido. Sua mente também é. Mas pelo menos ela tem cum certo grau de refinamento. Sua mente, claro, não o rio.


Ele olha o relógio. Mentira. Ele não tem relógio. Tem um celular. Não tira foto, não grava, nem toca música alta para incomodar quem está perto. Melhor assim. Bom celular. Comprado num momento de raiva, ela odeia celular. Incomoda que é uma beleza. Ele odeia quando ele treme no seu bolso. Ele assusta. O celular, claro, não ele.


Ele tomou a decisão naquele dia. Decisão estranha. Dificil. Porque é tão dificil romper laços? Aquilo na sua mão estava a pelo menos 3 anos com ele. Estranho. Como o tempo passa. Mais estranho ainda é perceber que naqueles três anos foram raros os dias que ele deixou de pensar naquilo que está em suas mãos. Muito mais estranho era a sensação de tempo perdido naqueles três anos. Muita coisa aconteceu, e ao mesmo tempo, nada aconteceu. Sua vida estava ali. Parada. A beira de uma ponte.


Que horas são?


Atrasado como sempre.


Nas suas mãos estava todo o fruto de algo que começou com uma pergunta simples. Boba. Um pensamento. Um interesse bobo até. Uma curiosidade. Ele estava com um compromisso naquele dia. Algo pra fazer naquele momento. Algo grande. Mas aquilo o arrebatou de uma forma estranha. Diferente. Maliciosa. Proibida até. Mas nem por isso menos interessante. Porquê tudo que é proibido é tão excitante? Maldita curiosidade. Pandora e sua caixa. Eva e sua fruta. A mulher de Lot e sua cidade. Maldição. Realmente. Maldição.


As possibilidades eram muitas. Fazer ou não fazer? Eis a questão. Enfim tomou a decisão. Estava nervoso. MAs a primeira parte foi facil. Conseguiu. Horas mais tarde estava lá. Sorridente. Mas nervoso. Um avanço e... Feito.


Nada de diferente aconteceu. Mas ele dava vazão aquilo quase todos os dias. E no fim, ele percebeu que estava refém daquilo.


Começava o seu crepúsculo.


Aquela atitude que parecia deslocada do seu contexto de vida fez tudo se modificar. Um turbilhão inundou sua vida. Ponta cabeça. Tudo desconectado. Loucura! Insensatez! Perigo! Incerteza! Medo! Tudo ao mesmo tempo agora.


Três anos depois ele estava ali. Com aquiles (quer dizer, aquilo era o seu calcanhar de Aquiles, mas a piada não vem ao caso. O correto seria "aquelas") coisas nas suas mãos. A ponte se aproximando.


Ele sabe que não terá volta. É tudo ou nada. Será o fim. Será o fim? Claro que sim. Ele já tinha certeza que aquilo não teria mais volta. Nem mesmo se ele quisesse. Nada poderia fazer o tempo voltar, mas ele afasta a idéia ao se recordar que tem um pagode com essa mesma idéia.. ele até lembra vagamente da música. E rapidamente a deleta do seu HD. Brrrr.. pagode. Eu queria era um Delorien (lembra? aquele carro do filme "De volta para o futuro"? por onde anda Michael J. Fox? Ah.. esquece.) Como ele foi medroso! Argh! Ele queria tentar de novo! Mas não podia. Ninguém poderia. Mesmo que por um desastre algo reconectasse as peças, já não se teria mais o motivo. Sua vida não permitiria tamanha doidice. Leitmotiv como diriam os doutos. Estranho... muito estranho...


Ele sente o cheiro da agua. Péssimo lugar. Ele poderia ter dado um fim mais romanceado aquilo. Poderia desfazer-se daquilo com mais classe. Mas ele queria fugir daquilo o mais rápido possivel. Não havia tempo pra dramas shakesperianos. Sua vida estava mais para uma tragédia grega, onde no fim, os protagonistas recebem a noticia que o leitor já sabia desde o inicio, mas que relutava em acreditar até lê-la no papel. Frank Kafka pareceria uma criança fazendo sua redações sobre as suas férias de meio do ano. Kafka.


Ele para sobre a ponte. Observa se vem alguém. Ninguém. É agora. Ninguém pode ver. Não aquilo. Ele tira tudo do bolso. Olha pela ultima vez. Fecha os olhos. Tudo não dura mais que um segundo. Lembranças. Ele as afasta. Ele quer falar, mas nada de util se passa em sua mente. Os sons ao seu redor diminuem num fade out tranquilo. Ele sorri. Quantas vezes uma tristeza indizivel tinha inundado sua mente por causa daquilo, mas ele sorri. Sim. Um sorriso onde somente o lado esquerdo da boca se arqueia. O braço direito faz um arco para dentro. Ele reluta. Ele dá um passo. Mais outro. E aquilo ainda está em suas mãos. Mas ele sabe. Sim ele sabe. A decisão já foi tomada. Com o braço direito fazendo um "C" invertido na altura do seus ombro ele finalmente...




Lança.




Splaft.




A "água" leva aquilo.




Ele sorri.




Ele está livre.



"Deve ser cisma minha, mas a unica maneira ainda de imaginar a minha vida é vê-la como um musical dos anos trinta. E no meio de uma depressão te ver e ter beleza e fantasia. E hoje em dia Como é que se diz "EU TE AMO?" (R. Russo)

"Quando alguém está em sua vida por uma "Razão"... é, geralmente, para suprir uma necessidade que você demonstrou. Elas vêm para auxiliá-lo numa dificuldade, te fornecer orientação e apoio, ajudá-lo física, emocional ou espiritualmente. Elas poderão parecer como uma dádiva de Deus, e são! Elas estão lá pela razão que você precisa que eles estejam lá. Então, sem nenhuma atitude errada de sua parte, ou em uma hora inconveniente, esta pessoa vai dizer ou fazer alguma coisa para levar essa relação a um fim. Ás vezes, essas pessoas morrem. Ás vezes, eles simplesmente se vão. Ás vezes, eles agem e te forçam a tomar uma posição. O que devemos entender é que nossas necessidades foram atendidas, nossos desejos preenchidos e o trabalho delas, feito. As suas orações foram atendidas. E agora é tempo de ir".



Para 01/08.

terça-feira, agosto 05, 2008

If you’re good at something, never do it for free.


Assisti na ultima semana o filme mais comentado até agora.
Batman, The Dark Knight.

O título na realidade não tem nada a ver com a história que se passa no filme. O verdadeiro "Batman, o cavaleiro das Trevas" foi uma minissérie de duas partes feita pelo genial Frank Miller na decada de 80. Na gibi, o Batman de Miller é um velho sombrio, malvado, brutal, animalesco (em várias cenas os bandidos alegavam que o Bat se aproximava "rosnando") e que não hesita em quebrar o pescoço do Coringa e observar "o que existia dentro dele sair 'gritando' " - uma clara alegação aos "demônios", no sentido mais literal do termo (se é que é possivel), que o habitavam-, em dar socos na cara do Super Homen, o eterno escoteiro, nas palavras do proprio Wayne e dizer que ele iria conhecer o unico homem que o derrotou. O gibi é fantastico. Um dos melhores que eu já li até hoje.
Entretanto, no filme que eu assisti, o astro é outro.
Sim. Tenho que concordar com 99% das pessoas que assistiram ao filme.

O dono do filme é o Coringa.

Ele é o cavaleiro das trevas.

Só que quero ir mais além. Por que o Coringa de Heath Ledger é tão "diferente" dos demais vilões? Enquanto assistia o filme, a figura do Coringa se fixava na minha mente. Podem ficar tranquilos que eu não estou fissurado no cara. Nem vou me tornar uma "viúva do Ledger". Não vouentrar na comunidade dele só por causa do filme. O que notei é que pessoas que nunca leram (ou que só leram meia duzia de revistas) do Batman agora bradam que são fãs do cara. Não do Batman. Mas do coringa. Colocam fotos no orkut, usam camisas, discutem sobre uma possivel continuação do filme. Não do Batman. Mas do Coringa. Sabem todas as falas do palhaço rei do crime mas nunca leram a "Piada Mortal", nem guardam num saquinho plastico a revista Superpowers em que o Coringa mata o primeiro Robin. Não sabem que o coringa antes era conhecido como "capuz vermelho".

Capuz o quê?

Se examinarmos os outros vilões (e olha que são muitos), todos eles apresentam um traço de humanidade. Darth Vader (pã pã pãpaan pã pã pãan pã pãpãan) apronta todas, mas no fim pede perdão a Luke e mostra que ele ainda tinha algo de bom atrás daquela máscara. Hannibal mesmo com uma orelha fresquinha dentro do bolso do paletó ajudava a detetive Jodie "sapatão" Foster a solucionar seu caso. Até mesmo o Arnold "Exterminador do futuro", no inicio um vilão, muda de time pra proteger aquele garoto idiota. Podemos dizer que Lex luthor tem no seu medo a razão pra odiar o superhomem e se o homem aranha estivesse envolvido na morte do seu pai queria ver se você não sairia voando por ai num planador com abóboras explosivas nas mãos.
A lista é longa, e mesmo os vilões mais brutais tem seus deslizes. Até o Jason em algumas cenas parece um cara legal.

Mas não o Coringa.

Ele não tem motivo nenhum pra fazer o que faz. Ele simplesmente "faz". E ponto. É isso. Zéfiní.
Analise a frase mais marcante do Coringa mais famoso, Jack Nicholson no primeiro filme: - "Você já dançou com o demônio sob a luz do luar?" Agora, compare com essa: -"Do I look like someone who has a plan"? ("Eu pareço alguém que tem um plano"?) Quem assistiu o filme deve ter se arrepiado quando o Ledger manda essa. O coringa mostra o que há de mais sombrio no ser humano. A capacidade de abstrair toda uma programação implantada no nosso mais profundo subconsciente e liberar o ID até o seu ponto mais extremo. O coringa é a vontade de esmurrar alguém pelo simples fato de querer ser temido. É a vontade de do nada levantar o dedo médio na cara do professor que se acha um "Platão" em pleno Rio de Janeiro. É o desejo de saber que as pessoas ao seu redor desconhecem seu proximo passo. É lançar um olhar de desprezo a alguém que está errado. É agir de forma totalmente "freak" de forma consciente. Usando Platão no seu Protágoras é a idéia de que homem algum faz algo errado sabendo que está agindo errado, ele só faz por ignorancia ou ilusão delirante. Mas o delírio é "delirio" para quem? Para quem passa por ele ou para quem o observa? Por isso o Coringa se torna tão fascinante.
Segundo Yehuda Bauer, um dos grandes estudiosos de Hiltler, ele era o "Mal extremo". Entretanto, a maioria das pessoas dão meia volta nessa idéia. Isso por que se aceitassemos isso, estamos também aceitando que dentro de cada um de nós existia um "Hitler interior" esperando para agir. Só precisando de um "empurrãozinho pra sair. Nas palavras do Coringa: "Madness is like gravity. All it takes is a little push". (A loucura é como a gravidade. Só precisa de um empurrão). O que mais me deixava sem fôlego no filme era o fato de que o cara simplesmente não media as consequencias de seus atos, nada parecia ter importância. Ele queima dinheiro, mata seus capangas, se deixa atropelar pelo Batman (sem sucesso... escoteiro...rs), desfila nos carros da pólicias (numa das melhores cenas do filme... a trilha sonora dá a impressão de como deveria ser a mente do Coringa naquele momento). Entretanto, todo esse esforço é destinado a nada. Por que o fato de não ter algo definido no fim das contas, "É" definir alguma coisa e isso destroi toda a montagem do Coringa (Dá-lhe Epimenedes!). Mas não é isso que ele quer? ser um agente do Caos? ("I am an agent of chaos")
O Batman é eclipsado pelo simples fato de ser o cara que pensa em tudo, que conhece a cidade com a palma de sua luva. Ele tem os meios certos, o dinheiro pra isso, amigos, um flerte, mas ao mesmo tempo, assim como Gordon, não tem ninguém ao seu lado. E ainda assim faz tudo certo.
O Coringa nos fascina por que mesmo fazendo tudo "errado" (vide a melhor cena do filme, a explosão do hospital), ele consegue olhar pra trás e traduzir todo o drama que aflinge o ser humano: Tudo isso vale a pena?

- "I’m a dog chasing cars. I wouldn’t know what to do if I caught one".
(Sou um cachorro perseguindo carros. Eu não saberia o que fazer se alcançasse um).