Growing up!

Aqui você encontrará meus delirios socráticos, minhas opiniões sobre assuntos diversos e obvio, um pouco da minha percepção de mundo. Tiago de Souza

sábado, maio 28, 2011

Felling X Emoção


Conversando com Josué Lopez antes da apresentação do Cambapé, ele me disse o seguinte:

- "Cara, muito legal o que você fez naquele dia em que tocamos o "A Love Supreme": você explicou um pouco do ambiente e da vida do autor (Coltrane) e também o conceito do disco. Eu sempre faço isso nos minhas apresentações: sempre tento passar pra galera um pouco da minha concepção de fazer e tocar musica, pois isso aproxima a platéia da mensagem que você quer transmitir".

Aquelas palavras se mostraram certeiras, pois hoje a tarde, lendo um livro me vieram os seguintes pensamentos:

a) Podemos sugestionar nossos ouvintes com as histórias por trás de nossas músicas: Só em dizermos o titulo de uma música já faz o publico construir imagens mentais: A obra de Debussy "La Mer" (O Mar) pode fazer alguém imaginar um mar, mas se trocarmos por engano para "La Mère" (A Mãe) a mesma musica nos faria imaginar duas coisas distintas. O que me fez pensar: O que a música transmite realmente?

b) A música não transmite NADA por si só: uma musica excelente pode ser arruinada por uma interpretação fraca. O que na realidade acontece é que a Música é como um carro, dirigido pelo Artista numa estrada que é construida por ele mesmo, e que dura um longo processo, estrada chamada Interpretação: o fim da estrada é o Publico e o que carregamos no carro se chama Emoção.

c) Diferente de "Sentimento" (que chamamos erradamente de "Felling"), a Emoção é o que conecta a mente do artista com a mente do mundo. O sentimento é algo que depende de nossa relação com o mundo que nos cerca, depende de nosso histórico familiar, cultural e geografico e também do momento em que vivemos (por isso a musica que gostamos HOJE poderemos não gostar AMANHÃ, pois sentimento é superficial...). Já a Emoção é algo que está no interior do artista e é ela que é alcançada quando ele transcende a arte e se mescla com a música que ele interpreta se transformando num só, é uma busca solitária e árdua e como diz o mestre Kiko Freitas, ela é alcançada com uma "tomada de consciência", podendo assim, permitir o artista apresentar a sua "Verdade".

d) Os verdadeiros artistas não "sentimentalizam" as platéias (como vemos muito por ai...): eles as EMOCIONAM.

O sentimentalismo é brega, a EMOÇÃO é transcendente.

...

Depois disso, disse pro Josué que se faz necessário mudar a concepção que está instaurada na mente das pessoas (em algumas localidades, se faz necessário ressaltar) de que uma apresentação é um "show" de pancadaria musical - realidade que eu mesmo por ignorancia já abracei durante muito tempo e que hoje abomino.

Ele, com a calma peculiar dos grandes me disse:

- Cara, essa mudança começa em vocês. Eu e vocês somos os responsáveis por mudar isso.

"Seja a mudança que você quer pro mundo".

Mahatma Gandhi.

Bom fim de semana a todos.

Um grande abraço!

t.

(O nome do livro é "Música, mente, corpo e alma" de Monique Aragão)

(Se puder, ouça o album "A Love Supreme" de John Coltrane e "Emotion & Comotion" de Jeff Beck)

Sou TODO ouvidos...

Acabei de ler essa num livro e me fez parar e pensar:

"O ouvido é o único sentido que os olhos não podem ver".

Alem do óbvio (Os olhos podem ver as mãos, a lingua, o nariz, mas realmente não podem "ver" os ouvidos) algumas coisas me vieram a mente:

a) Música de verdade encanta os ouvidos e não somente os olhos;

b) Nossa "Música" hoje em dia é muito mais "visual" (por isso descartável) do que "sonora";

c) O único sentido que não "desliga" nunca é a audição, ou seja, é um sentido indomável.

d) Falando em "desligar", a audição é o ultimo a entrar em "stand by" quando dormimos;

e) A audição é o unico sentido que pode ser "focalizado" num alvo (podemos até enxergar em níveis, mas não podemos anular toda uma paisagem, continuaremos a ver tudo em niveis, mesmo que com focos diferentes. A audição não: podemos "isolar" um determinado som, eliminando por completo outros que estão acontecendo ao mesmo tempo;

f) Mesmo se estivermos no vácuo e fecharmos os olhos, continuaremos a ouvir o som do nosso corpo: o chamado "pulso alfa".

g) Antes as pessoas esperavam ANOS para ouvir uma música (por exemplo, a execução de uma determinada sinfonia de Beethoven poderia demorar anos, dependendo de uma boa orquestra disposta a executá-la). Hoje, temos tanta coisa a mãos que somente "escutamos com os olhos" e não "ouvimos com os ouvidos".

Estou tentando "ouvir" mais: Ouvir os musicos que tocam comigo, os conselhos que pessoas que eu amo me dão, as notas que eu ouço dos dois lados do palco, e principalmente, a Voz do meu Deus, que sempre fala, mas as vezes o Ipod me impede de ouvir. Lutando para ser "TODO OUVIDOS".

Um grande abraço!

(O nome do livro é "Odio a Música" de Pascal Quignard)

(E é claro que os olhos não podem "ver" a si mesmos, e olhar as orelhas no espelho não vale... rs)

domingo, maio 01, 2011

Dream Theater Auditions...


Na Física existe um conceito chamado "Principio da Incerteza" que diz mais ou menos o seguinte: Quando um observador se aproxima para observar algum fenômeno atômico, a sua simples presença já altera todo o fenômeno, ou seja, nunca poderemos chegar ao conhecimento total de determinados aspectos do universo, pois a nossa simples vontade de ver já altera toda a estrutura observada.

Pois bem. Já está explicado supostos deslizes com relação ao fato que vem a seguir.


Um dos fatos mais comentados nos ultimos dias no mundo musical foi o "Big Brother Dream Theater", que para quem não sabe, foi um especial em três episódios onde os 4 membros remanescentes da banda escolheram o substituto para o baterista e fundador da banda, Mike Portnoy, que saiu do grupo no ano passado. Foi um acontecimento marcante, pois, antes, somente o Metallica no seu dvd "Some kind of monster" tinha tido coragem de mostrar a realidade bem crua do ambiente conturbando de uma banda. Mas o DT fez um pouco diferente que isso. Não necessariamente pra melhor.
Obvio que a banda utilizaria essa "escolha" em seu favor, com toda a notoriedade que ela traria (até eu, que a tempo não ouvia nada do Dream Theater pós Kevin Moore [tecladista e gênio que saiu da banda após o cd AWAKE] voltei a ouvir algumas coisas deles), mas ficou claro pra mim que a escolha era feita de cartas marcadas.

Assim como desconfio que a saída do Mike foi um verdadeiro golpe publicitário...
Mas meu assunto não é esse.

Fiquei realmente atordoado com o retrato de como o nosso instrumento teve nesses vídeos. E também em notar como o mundo dos musicos é feito não somente de arte musical, velocidade, musicalidade, foco, genialidade, mas sim de oportunidades, talento TRABALHADO, visão, marketing, inteligencia interpessoal, carisma e por que não, TOCAR O QUE A MUSICA PEDE.

Os bateristas que forma selecionados para os testes foram os seguintes:
* Aquiles Priester (39 anos) (ANGRA, PAUL DI'ANNO)
* Peter Wildoer (36 anos) (DARKANE)
* Marco Minnemann (40 anos) (KREATOR, NECROPHAGIST, EPHEL DUATH, JOE SATRIANI)
* Virgil Donati (52 anos) (PLANET X, SEVEN THE HARDWAY)
* Derek Roddy (38 anos) (HATE ETERNAL, NILE, TODAY IS THE DAY)
* Mike Mangini (48 anos) (STEVE VAI, EXTREME, ANNIHILATOR)
* Thomas Lang (43 anos) (JOHN WETTON, ROBERT FRIPP, GLENN HUGHES)


Os videos traduzidos estão aqui:
http://vimeo.com/23059560/

(as outras partes estão do lado direito da tela)

Não estou falando mal dos caras. Todos são EXCELENTES musicos e estão no topo de seus estilos. Essa minha visão é totalmente voltada para a MINHA percepção. Não desmereço ninguém, pelo contrario. São todos MESTRES.


Primeira coisa que salta aos olhos: a idade dos caras.
O mais novo tem 36 anos.
Sim, 36.
Quanto tempo os caras esperaram por uma oportunidade dessas? Se pensarmos que o Virgil Donati começou a aprender musica com tres anos de idade, ele esperou 49 anos por isso. E quantas vezes, eu, com metade da idade dele quero apressar as coisas.
Tsc tsc tsc.
Outra coisa: Olhem as gigs que esses caras já tocaram. Muito musicos (salvo muitas exceções) simplesmente se recusam ou ignoram descer alguns niveis de discurso musical, pois chegaram ao TOPO. Na mente deles, uma oportunidade musical começa pela pergunta: "O Quê ou Quanto eu ganho com isso"? e não pela pergunta "Será que eu consigo tocar bem"? Não estou dizendo que musicos não devem pensar em grana. Obvio que devemos pensar em receber pela nossa arte, mas pra muita gente, a arte passa longe do nosso oficio. Imagine se alguém chega pra Picasso e diz: "Picasso, esse seu quadro não é muito comercial, tem como colocar umas florezinhas aqui"? ou então "Bethooven, essa musica é complexa demais, tem como compor mais "pop"? Ou ainda "Pelé, tenta manter a bola nos pés desse jeito aqui ó.. é o que TODO MUNDO FAZ E DÀ CERTO".
Estou meio cansado de pessoas que dizem que "A realidade deles é diferente da nossa..." e não fazem nada pra mudar isso.

O teste para entrar na banda (ou seja, para conseguir a gig) consistia de 3 fases:
a) Tocar três musicas do Dream Theater.
b) Tocar um RIFF (um tema) que o grupo compos especialmente pro teste.
c) Uma jam session.

Assistindo aos vídeos reparei em detalhes surpreendentes... Mas vou me limitar a falar somente de 6 bateristas, ok? Porque o ultimo deles (Peter Wildoer) eu não cheguei a assistir o vídeo.



a) Derek Roddy.
Um cara que chega numa gig dizendo "Não tive tempo de me preparar para a gig" realmente não merece a gig, mas ele toca as musicas numa boa, chegando a deixar os caras da banda de cabelo em pé com sua tecnica de Blasted Beats". Mas... por outro lado, no teste do riff ele simplesmente não conseguia tocar. Reparem que a mão direita dele no hihat tem tendencias a "disparar" sextinas e semicolcheias numa levada que só pode seminimas. Parecia que ele mesmo já sabia que não ia entrar. E o cara tem um dvd -aula que vende igual água. Eu não comprei.


b) Thomas Lang.
Thomas Lang tem um histórico de duas videos aulas "fantásticas" sobre independencia e tecnica. É um monstro capaz de quase tudo no instrumento.
Quase tudo.
O vocalista James Labrie Adorou a performance dele, (disse que adorou sua interpretação, seu estilo, principalmente nas jams) e realmente, ele tira muito som do instrumento: com uma pegada precisa e poderosa, ele manda muito bem nas musicas da banda, mas na jam session teve pequenos problemas... O cara escreveu o riff mas na hora do vamos ver, não consegui entender algo que o mestre Kiko Freitas sempre diz: CUIDADO COM MUDANÇAS NA UNIDADE DE TEMPO!!!!! o riff começa comuma levada em 8 (colcheia como unidade) e depois passa para semicolcheias. Lang TRAVA. Chega a fazer uma careta. O apice é o TECLADISTA (sim, o TECLADISTA) cantando o tempo pro baterista. POis é... Pro baterista.

c) Virgil Donati.
Donati é o proximo. Ele é na minha opinião o cara menos adequado para a gig. Primeiro: a postura musical do Donati é a de um jazzista com alma de roqueiro: ele sempre pensa em dialogar com a musica sempre, e isso iria chocar com os arranjos cerebrais do DT. Segundo: Donati tocou as musicas usando a SUA abordagem. Sendo que fãs, principalmente de PROGMETAL são os mais xiitas do planeta: se o musico não toca o que acontece no disco ele é descartado por limitações tecnicas e ignorado por estar "fingindo" tocar: se vc gravou, tem que ser capaz de tocar exatamente aquilo que gravou ao vivo. Donati não tocou uma unica virada igual a do Portnoy. Ele fez certo ou errado? Bom, para AQUELA GIG ele fez errado. Na jam sessiom eles tocaram uma balada e ele simplesmente deslocava o back beat do 4 tempo da cabeça para a segunda semicolcheia "quebrando" o tempo numa atitude clara de buscar "tensão" na levada. Mas era uma balada, e não uma musica do Allan Hoodsworth.
O que me surpreendeu foi a fase do riff. O tecladista pergunta: "Você quer ver a partitura"? O cara simplesmente pergunta"Posso mesmo"? Criaturas de Deus... o Cara simplesmente DETONOU: leu de primeira a dele e a do pianista (hahahaha) e ainda fez alterações ritmicas no tema e elevou o inivel de idéias dos caras. Mais uma amostra que sua visão é muito voltada para a concepção de solista e não de um acompanhador. Petrucci diz no fim antes de apertar a mão dele: "Você é um monstro".
Ah! Donati errou o fim de "Dance of Eternity" e não entendeu as divisões de um trecho, tanto que "empacou" no ensaio justamente nessa parte da musica. Mas ao que parece, ele empacou por que queria tocar as musicas do seu jeito, buscar outros caminhos.. enfim. Coisas de doido. rs

d) Marco Minemman
"Absolutely Fenomenal" (James LaBrie).
Conquistou a todos com sua tecnica e carisma (o tecladista Jordan Rudess ficou maravilhado com o fato de Minemman tocar coisas complexas "sorrindo" e o vocalista LaBrie duas vezes é pego com um sorriso aberto perante a performance do cara.) e pasmem: na parte do riff ele nem escreveu nada. Ele simplesmente "cantou" a musica e tocando em cima sem errar nada. No vídeo, apenas as coisas boas dele foram mostradas, o que me fez pensar: ou o cara tocou muito ou simplesmente só quiseram mostrar o que era conveniente, já que a disputa ficou entre ele e o Mike Mangini.


e) Aquiles Priester
O Brasileiro.
Antes de mais nada, o cara realmente merece o lugar que ocupa no cenário bateristico. O cara veio do nada (acho q até 2001 o cara trabalhava numa empresa multinacional...) e em uma década estava sentando no banquinho mais desejado por inumeros bateristas ao redor do planeta. Seu desempenho na audição foi bom embora nos vídeos apenas seus erros foram mostrados, dificultando assim uma analise mais objetiva. Errou no fim de "Dance of eternity" no mesmo trecho que o Donati e na parte dos riffs me pareceu tenso, o que dificultou uma boa interpretação. Outra coisa que chamou a atenção foi seu inglês. Quase um Joel Santana, mas ninguém falou que o Marco Minneman fala muito carregado, mas como nós brasileiros adoramos ver a desgraça dos outros, dá-lhe zuações em cima do cara.
Foi o unico que falou descaradamente que errou na audição.
Foi o unico que disse que estava nervoso.
Foi o unico a pedir desculpas pelos seus erros na audição.
Enfim. Um brasileiro honesto.

f) Mike Mangini.
De cara eu já digo que ele foi escolhido. Mas porquê será? Mangini é simplesmente COORDENADOR DO DEPARTAMENTO DE PERCUSSÃO DA BERKLEE SCHOOL OF MUSIC. Só isso. Só aqui no Brasil é que roqueiro tem a fama de idiota musical, por que aqui nós reproduzimos o mesmo padrão separatista que vem dos EUA que tem como lema : "Cada um na sua praia", ou usando a Bíblia "Cada no ministério que foi chamado".
Conversa fiada e das brabas.
Como aqui nós músicos não temos o trabalho de pensar um pouco mais fundo, nós simplesmente rejeitamos musicos que toquem num estilo diferente do nosso. As vezes, essa rejeição tem um fundo de verdade: estou falando de musicos que são verdadeiros boçais, que não tiram repertório, não tem instrumentos a altura do que se dignam a fazer, são desleixados visualmente, são impontuais, e são verdadeiras bombas relógio no que diz respeito a transmitir confiança durante uma situação musical -baixistas sem base, baterista "malabaristas pedalistas", guitarristas com sindrome de "Segura que eu solo", tecladistas pseudopinaistas que não sabem nem timbrar e por ai vai. Mas na maioria daz vezes é puro preconceito. Quando Miles Davis chamou Bill Evans e John Mclauglhin pra sua banda ele foi espinafrado pelos seus colegas. Sabe qual foi a resposta? Na sua voz rouca caracteristica ele disse: "Se eu encontrar alguém que TOQUE como esses caras, me aponte que eu trago pra banda". Ou seja, DANE-SE se ele é roqueiro, jazzista, bluseiro, brazuca: eu quero um MÚSICO não um ESTILO.
Mangini teve a inteligencia de perceber que os caras do Dream Theater queriam alguem de confiança, que reproduzisse o estilo do Portnoy, mas que fosse "diferente". Complexo não é? Mas ele fez EXATAMENTE isso. Como disse um cara no Whiplash: "Você tem que: 1. Aprender rápido e errar o mínimo; 2. Em situação de aperto, diante do caos, você tem que ser criativo e seguir batucando (=trabalhando) sem titubear; 3. Ser simpático e sorrir para seus chefes. Minneman foi o melhor até agora, mas ele é um gênio sem um ¨network¨, sem um ¨QI¨, sacam? Neste ponto Mangini supera os outros, porque este é um cargo de confiança. Os cargos de confiança, de tanta importância e impacto, devem ser oferecidos para alguém conhecido (se for parente é melhor ainda!) por um CEO do mesmo naipe do LaBrie. Por que é assim!? É assim para evitar problemas no futuro. Vai que contratam um doido que estraga um projeto (=albúm). Isto é o que se chama de ¨network¨."


Terminando, muito legal perceber os erros dos caras, suas preocupações em agradar os contratantes, suas personalidades "fora" do kit e o ambiente musical que esses caras estão inseridos.

Existem mais coisas entre o céu e a terra que podem ser descritas por nossa vã filosofia... (Shakespeare)
Isso vale pra musica também.

Gd abraço.
T.